Depois de ser reeleito com o apoio de nove partidos, o governador Romeu Zema (Novo) utilizou o início do segundo mandato para acomodar aliados na estrutura do poder Executivo de Minas Gerais.
Um levantamento feito pela Itatiaia aponta que ao menos 10 ex-parlamentares, sem mandatos ativos, foram nomeados em cargos da gestão estadual.
O movimento contrasta com o cenário de quatro anos atrás, quando Zema, após vencer a eleição com uma chapa “puro-sangue”, não abriu espaço para indicações políticas de outros partidos no governo e enfrentou dificuldades até conseguir costurar apoios.
A última nomeação de um quadro de trajetória política aconteceu no sábado (22), quando Fernando Borja (PP), ex-vereador de Belo Horizonte, foi oficializado como ocupante de um cargo comissionado na Secretaria de Estado de Casa Civil.
A pasta, aliás, é chefiada por outro nome com experiência parlamentar. Trata-se de Marcelo Aro (PP), ex-deputado federal e um dos principais articuladores políticos de Zema. No ano passado, ele tentou chegar ao Senado Federal com o apoio do governador, mas perdeu para Cleitinho Azevedo, do Republicanos.
Além do PP, a lista de contemplados com cargos no governo Zema tem ex-parlamentares que, no ano passado, disputaram a eleição por PSDB, Cidadania e PSB. Veterano na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o tucano Dalmo Ribeiro não conseguiu emplacar o sétimo mandato consecutivo. Acabou nomeado secretário executivo do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).
No novo posto desde abril, Dalmo tem atuado em funções de assistência às prefeituras de Minas.
“O BDMG tem uma pauta vasta de produtos para o desenvolvimento econômico, com a aquisição de veículos, ações de saneamento e construções. O banco tem focado nesta pauta com os municípios. Vamos trabalhar nessa interlocução, orientando o andamento dos processos e o que as prefeituras precisam”, disse, à reportagem, à época da posse no cargo.
Quem também tem atuado em um setor ligado aos assuntos municipais é a ex-deputada estadual Celise Laviola, do Cidadania. Ela ocupa cargo de assessora especial da Secretaria-Geral do governo estadual. O espólio político dos Laviola, contudo, segue com representação na Assembleia. Isso porque o filho de Celise, Zé Laviola, ocupa um dos 77 assentos da Casa e está filiado ao Novo.
Há, ainda, mais dois ex-componentes da Assembleia no governo Zema. Guilherme da Cunha é Secretário Executivo de Desenvolvimento, enquanto Laura Serrano é diretora-geral da Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (Arsae). Ambos são filiados ao Novo.
De volta ao BDMG, há o caso de Gustavo Mitre. Outrora deputado estadual, ele tentou a reeleição pelo PSB. Neste ano, assumiu o comando do braço cultural do banco.
Procurado pela Itatiaia, o governo mineiro defendeu as nomeações.
“Todas as nomeações dos servidores de recrutamento amplo levam em consideração a necessidade da estruturação administrativa, a racionalização do uso dos recursos públicos e a capacidade técnica do nomeado, sempre com foco no desenvolvimento do estado e na melhoria da prestação de serviços à população. Desta forma, os selecionados citados possuem histórico de atuação para a área em que foram direcionados para desenvolver o trabalho”, lê-se em nota do Palácio Tiradentes.
Aliados em estatais
Também há políticos ligados a Zema em estatais mineiras. Ex-deputado federal, Charlles Evangelista (PP) é assessor institucional da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa).
Na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), quem bate ponto é o médico Bernardo Ramos (Novo), que chegou a ser vereador em Belo Horizonte. Escolhido para ser diretor-adjunto de Projetos Especiais, Ramos foi chamado para atuar, sobretudo, na remodelação de processos internos da estatal, como a Fundação Forluminas de Seguridade Social (Forluz), a previdência própria dos servidores da companhia. Ortopedista, ele ainda tem, sob seu guarda-chuva, o Cemig Saúde, plano de saúde destinado aos trabalhadores.
A posse de Ramos na energética chegou a ser questionada. O deputado estadual Betão, do PT, acionou o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para saber se a nomeação do médico na estatal tem amparo legal. A Cemig, por sua vez, garante que o escolhido “cumpre todos os requisitos legais para ocupar o cargo”.
Deputado do PP teve nomeação barrada
O número de quadros políticos no governo Zema tinha tudo para ser maior, porque a cúpula do Palácio Tiradentes já havia dado aval à nomeação do ex-deputado federal Franco Cartafina na vice-presidência de uma estatal. Ele seria integrante da direção da MGI Participações, empresa responsável por gerir os imóveis de propriedade do estado.
A ida de Cartatina para a MGI, porém, acabou barrada por uma recomendação da Advocacia-Geral do Estado (AGE). Informalmente, a AGE sinalizou que a nomeação do político do PP poderia ter um entrave: a Lei das Estatais. A explicação está relacionada à busca do parlamentar pela reeleição no ano passado.
Pela Lei das Estatais, cidadãos que participaram da coordenação de campanhas políticas nos últimos 36 meses ficam proibidos de tomar posse em cargos diretivos de empresas públicas. O mesmo vale para postos em conselhos. A situação, aliás, pode atrapalhar a ideia de ter o ex-secretário de Governo Igor Eto na Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge).