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Secretário Igor Eto está fora do governo Zema

Ele comunicou exoneração a deputados; havia insatisfação no governo por ritmo lento das privatizações

Igor Eto não é mais secretário de Governo da administração Romeu Zema. Ele comunicou a parlamentares que foi exonerado do cargo pelo governador, conforme apurou a Itatiaia.

Eto deixa a Secretaria de Governo três anos após assumir a pasta após a crise desencadeada pelo veto do governador ao reajuste da segurança pública em março de 2020. Na ocasião, ele substituiu Bilac Pinto (União).

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Igor Eto buscou o apoio do presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Tadeu Martins Leite (MDB), para se manter no cargo. Os dois conversaram na noite de segunda-feira (26) e almoçaram nesta terça (27).

O governo Zema confirmou a exoneração às 19h04m desta terça-feira (27) e disse que a saída do secretário ocorreu em comum acordo. O secretário-adjunto de Governo, Juliano Fisicaro Borges, assumirá interinamente o comando da pasta de Governo.

“Eto aceitou um desafio muito complexo para qualquer governo e conduziu sua atuação a partir de uma articulação sensível. Só tenho a agradecê-lo”, disse Zema no comunicado divulgado à imprensa.

“Deixo a Secretaria de Governo hoje, em comum acordo com o Governador Romeu Zema, para seguir outros desafios. Agradeço a todos com quem tive o prazer de trabalhar nesses últimos anos, em especial deputados, prefeitos e servidores da Segov. Ao Governador Romeu Zema, toda a minha lealdade”, declarou Eto no mesmo texto.

Privatizações

A principal tarefa do secretário de Governo é cuidar da relação com a ALMG e conseguir aprovar projetos de autoria do governador. Embora tenha conseguido aprovar algumas propostas neste ano, como a reforma administrativa, o fim do IPVA Complementar, o aumento para o primeiro escalão do governo, e mudanças na Fucam, há forte pressão externa e interna no governo para que as privatizações das estatais avancem na ALMG.

A avaliação é que o tema não foi prioridade da gestão de Eto. O único projeto de privatização que está na ALMG é o da Codemig, mas está parado desde o final do ano passado. Como mostrou a Itatiaia, a modelagem para privatização da Copasa já está concluída desde o final de maio, mas o projeto de lei ainda sequer foi enviado para o Legislativo.

No início do ano, Eto esteve perto de ser exonerado devido à articulação feita por ele para a eleição da presidência da ALMG. O agora ex-secretário articulou a candidatura de Roberto Andrade (Patriota), mas, diante de uma derrota iminente, foi obrigado a ceder e apoiar Tadeu Leite.

A troca na Secretaria de Governo ocorre em um momento delicado para Zema na ALMG. Apesar de ter ampla maioria, com o apoio de mais de 50 dos 77 deputados estaduais, o governo corre contra o tempo para aprovar o Programa de Acompanhamento e Transparência Fiscal (PAF).

O projeto precisa ser aprovado até quinta-feira (29), mas sequer foi votado em primeiro turno. Se o prazo não for cumprido, Zema informou aos parlamentares que o governo terá que desembolsar R$ 15 bilhões à vista em pagamento ao governo federal.

Substituto

No calor da exoneração, os nomes mais comentados entre os parlamentares para substituir Igor Eto de forma permanente são o atual secretário de Casa Civil, Marcelo Aro (PP), e o ex-deputado Lucas Gonzalez (Novo), que hoje ocupa um cargo no governo ligado ao vice-governador Mateus Simões (Novo). Gonzalez é o responsável pela interlocução com os prefeitos.

Os parlamentares expressam receio de Zema indicar um nome de fora da política para realizar a interlocução com a ALMG. Desde 2019, o governo já teve três secretários de Governo: Custódio Mattos e Bilac Pinto eram políticos. Já Igor Eto era integrante do Partido Novo quando foi escolhido primeiro para ser secretário-geral e, depois da crise com a segurança pública, para assumir a Secretaria de Governo.

A avaliação entre deputados governistas na ALMG é que Eto e o presidente da Casa, Tadeu Martins Leite, estavam entrosados e a relação política entre o Executivo e o Legislativo era a melhor desde o início do governo Zema há 4 anos.

Lucas Ragazzi é jornalista investigativo com foco em política. É colunista da Rádio Itatiaia. Integrou o Núcleo de Jornalismo Investigativo da TV Globo e tem passagem pelo jornal O Tempo, onde cobriu o Congresso Nacional e comandou a coluna Minas na Esplanada, direto de Brasília. É autor do livro-reportagem “Brumadinho: a engenharia de um crime”.
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