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Viúva de Bruno Pereira pede retratação de Bolsonaro e do presidente da Funai

Presidente disse que viagem de Dom e Bruno ao Vale do Javari era ‘aventura não recomendada'; morte completa 45 dias

Beatriz Matos e Jader Marubo

A viúva do indigenista Bruno Pereira, a antropóloga Beatriz Matos disse nesta quinta-feira (14) esperar por uma retratação pública do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, por declarações sobre o desaparecimento de seu marido e do jornalista britânico Dom Phillips.

Beatriz foi ouvida pela Comissão Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte, do Senado, em audiência pública realizada hoje.

“Gostaria que o presidente do Brasil, o vice-presidente do Brasil e o presidente da Funai se retratassem em razão das declarações ridículas que fizeram. O presidente da Funai falou em ilegalidade da presença deles ali. O presidente da República falou coisas que eu me recuso a repetir aqui. Isso não é uma questão menor. É uma questão muito séria”, desabafou.

Por duas vezes, Bolsonaro disse que a viagem de Bruno e Dom ao Vale do Javari era uma “aventura não recomendada”. Bruno trabalhava para a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), onde coordenava expedições para denunciar o crime organizado que atua na região. Phillips escrevia um livro sobre o local e também era correspondente do jornal inglês The Guardian, tratando de questões ambientais e da Amazônia.

Antes que os corpos de Bruno e Dom fossem encontrados, Bolsonaro também disse que os dois eram ‘mal vistos’ na região e que ambos deveriam ter se matado.

“Pelo que tudo indica, se mataram os dois, espero que não, estão dentro d'água. E dentro d'água pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha no Javari”, afirmou.

Beatriz Matos e o líder indígena Jader Marubo foram convocados pela comissão para falar sobre a morte de Bruno e Dom e denunciar o desmonte na Funai.

“Em campanha mesmo o presidente Bolsonaro falou que iria ceifar a Funai. Hoje, entendemos o que é ceifar a Funai. Eles desestruturou a instituição. Se houvesse uma Funai forte, uma Funai atuante, uma Funai que fizesse o trabalho ao qual ela foi criada para fazer, hoje o Bruno estaria vivo”, denunciou Marubo.

Ele alertou os senadores que novas mortes podem ocorrer na região e que atividades irregulares colocam em risco a floresta e os povos indígenas isolados.

Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.