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Mercado vê ‘primeiros sinais’ de desaceleração na geração de emprego

Estabilidade na taxa de desemprego, que atingiu a mínima histórica, é o primeiro sinal de perda de fôlego na atividade econômica

Taxa de desemprego em agosto se manteve em 5,6%, mesmo patamar de julho

O mercado financeiro observa os primeiros sinais de desaceleração da geração de emprego no Brasil, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (30). As estatísticas mostram que o país segue com a taxa mínima histórica de desemprego a 5,6% em agosto, resultado que indica estabilidade em relação ao trimestre móvel encerrado em julho.

Se comparado com o trimestre de março, abril e maio, houve uma queda de 0,6 ponto percentual (p.p), quando a taxa de desocupação era de 6,2%. Frente ao mesmo trimestre em 2024, a taxa teve um queda de 1,0 p.p, com a taxa calculada em 6,6%. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (Pnad), a população sem emprego é de 6,084 milhões, a menor da série histórica calculada pelo IBGE.

Apesar do resultado positivo apontar para um mercado robusto e resiliente a política monetária restritiva do Banco Central, com taxa básica de juros a 15% ao ano, o ajuste sazonal mostra que a taxa de desemprego subiu marginalmente de 5,67% para 5,73%. O aumento interrompe uma sequência de quatro quedas, dando sinais de arrefecimento ao mercado de trabalho.

O economista sênior do Banco Inter, André Valério, compara os dados com o relatório do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado nessa segunda-feira (29). As informações do Ministério do Trabalho e Emprego revelam que o país teve um saldo de 147,3 mil vagas de emprego formal em agosto, o pior resultado desde 2020 para o mês.

“O Caged aponta para uma perda de dinamismo no ritmo de contratações, sem maiores pressões nas demissões, enquanto a Pnad indica estabilidade na taxa de desocupação. Apesar de ser apenas um dado no tempo, fica a expectativa se o resultado de hoje é um ponto de inflexão na dinâmica do mercado de trabalho, indicando perda de dinamismo nos próximos meses à medida que o aperto monetário é sentido na atividade real”, explicou.

De acordo com o economista, o momento ainda é de um mercado “extremamente robusto”, com ganhos na renda real e manutenção do nível de ocupação. Porém, a estimativa do Inter é de que a taxa de desemprego avance para 5,8% no final do ano, e a deterioração siga ao longo de 2026, chegando em 6,5%.

Economia começa a perder fôlego

Um relatório da equipe de macro da Genial Investimentos aponta para o diagnóstico de perda de fôlego na economia. A análise destaca que a taxa de ocupação com ajuste sazonal também teve uma queda de 0,1%, enquanto a população desocupada caiu 0,7% e renovou o menor nível já registrado na série - 6,2 milhões de pessoas.

“Esses dados reforçam o diagnóstico de perda de fôlego da economia a partir do 2T25, em linha com os sinais vindos dos indicadores setoriais. Ainda assim, a resiliência do mercado de trabalho sugere que o emprego seguirá como um dos principais fatores de pressão sobre a inflação nos próximos meses”, disse o relatório, estimando a Selic no patamar atual até o início de 2026.

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Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.