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Indústria mineira desacelera em agosto com inflação alta e taxa de juros elevada

Sondagem industrial da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) mostra pessimismo do empresário com o cenário econômico

Indústria mineira teve queda no nível de produção e emprego

A sondagem industrial da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), divulgada nesta quarta-feira (24), mostrou uma queda no nível de produção no mês de agosto, com o índice em 44,3 pontos. O resultado é o pior da série histórica desde 2015, quando o setor marcou 42,6 pontos.

Se comparado ao mês de julho, o indicador teve uma retração de 6,4 pontos, quando o nível de produção marcava 50,7 pontos, em parte pelo menor número de dias úteis no mês - os dados não passam por ajuste sazonal. A queda foi ainda maior ante a agosto de 2024, com retração de 8,2 pontos, com a atividade econômica marcando 52,5 pontos no índice.

A pesquisa considera a linha de 50 pontos como divisor entre aumento e queda. Valores acima apontam para um crescimento na produção, enquanto valores mais abaixo mostram uma desaceleração da atividade econômica.

Para a coordenadora da pesquisa, Daniela Muniz, diversos fatores podem explicar o cenário ruim para a indústria mineira, principalmente o ambiente de inflação e taxa de juros altas. Com o acumulado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 5,13% no ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a Selic em 15% ao ano.

“Esse comunicado importante do Copom manteve a sinalização da taxa de juros por um período prolongado. Isso pressiona o custo do crédito, tanto para as empresas, quanto para os consumidores. Aumenta os encargos financeiros das empresas e acaba diminuindo o poder de compra. São fatores combinados que reduzem tanto o consumo, quanto o investimento”, disse.

O levantamento também mostrou uma desaceleração no nível de emprego industrial em agosto, marcando 45,8 pontos. Na comparação com julho, houve uma retração de 2 pontos, a 47,8; na relação com o ano passado, a queda foi de 5,3 pontos, com 51,1 pontos marcados.

“A atividade tende a perder o fôlego nos próximos meses, pressionando o ambiente de negócios. Inclusive, alguns indicadores já mostram essa desaceleração, embora o mercado de trabalho continue bastante forte. A gente sabe que o mercado de trabalho demanda um certo tempo para reagir, ele tem uma certa defasagem”, explicou a especialista.

Outro ponto destacado por Daniela Muniz são as contas públicas do governo federal, que em uma política de gastos expansionista, com a liberação de recursos e crédito, pressiona o Banco Central para uma política monetária contracionista. “Isso acaba aumentando a incerteza no médio prazo, acentuando esse descompasso entre a política fiscal e monetária”, disse.

Nesse cenário, a utilização da capacidade instalada da indústria também caiu, saindo de 44,4 pontos em julho para 40,7 pontos em agosto. Em relação ao ano passado, o indicador caiu 5,9 pontos. O resultado mostra uma ociosidade na indústria, com as empresas reduzindo as operações e os investimentos.

Expectativas para o futuro também são ruins

O levantamento da Fiemg também aponta para expectativas ruins da indústria. O indicador de demanda para os próximos seis meses caiu para 48,3 pontos em setembro, mostrando uma queda de 2,5 pontos ante agosto (50,8 pontos), o menor patamar dos últimos 10 anos. Se comparado com o ano passado, o indicador caiu 8,4 pontos.

O índice de expectativa de matérias-primas marcou 47,2 pontos em setembro, mostrando a perspectiva de queda das compras do setor com uma retração de 3,4 pontos ante agosto, e 5,9 pontos ante setembro de 2024. A expectativa de número de empregados também registrou queda, chegando a 46 pontos em setembro, caindo 2,1 pontos em relação a agosto, e 5,9 pontos frente ao mesmo período do ano passado.

Ponto de destaque para o futuro, a intenção de investimento também caiu. O indicador teve uma retração de 1,7 ponto frente a agosto, e marcou 54,5 pontos. Se considerado setembro de 2024 (60,4 pontos), o recuo foi de 5,9 pontos. Apesar da baixa, o índice ainda ficou 1,8 ponto acima da média histórica de 52,7 pontos.

Segundo Daniela Muniz, outro fato que elevou a desconfiança dos empresários foram as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros importados. O cenário externo coloca a indústria em desvantagem frente à competição com outros países que conseguiram negociar as taxas.

“A gente teve medidas para mitigar os impactos, como o Plano Brasil Soberano, do governo federal, e alguns incentivos fiscais em Minas Gerais, com o governo estadual. Mas a gente sabe que alguns setores importantes para o estado, como a metalurgia, vão sofrer mais com essas tarifas”, completou.

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Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.