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Banco Central avalia manter juros altos por um ‘período bastante prolongado’

Ata do Comitê de Política Monetária divulgada nesta terça-feira (23) mostra que o Banco Central avalia estratégia para segurar a inflação

Ata do Copom também avaliou o cenário da economia como “incerto”

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgou, nesta terça-feira (23), a ata da última reunião em que decidiu manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. No documento, a autoridade monetária disse que avalia se manter Selic elevada por um “período bastante prolongado” será o suficiente para levar a inflação para o centro da meta de 3%.

Com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 5,13% no acumulado dos últimos 12 meses, o Banco Central destacou que os últimos indicadores da inflação manteve uma perspectiva de valores acima da meta para 2025 e 2026. O Boletim Focus dessa segunda-feira (22) estima uma inflação em 4,83% neste ano, e 4,29% no ano que vem.

A ata do Copom ainda ressalta que o grupo entra em um novo estágio, optando por manter a taxa inalterada. O ciclo de alta da Selic havia começado em setembro de 2024, e, após uma alta de 4,5 pontos percentuais, foi interrompido pelo Banco Central em julho, quando a taxa chegou ao patamar atual de 15%.

Além do cenário interno, a ata do Copom destaca um ambiente externo “incerto”, principalmente pela política econômica nos Estados Unidos. Os diretores destacaram a volatilidade de diferentes classes de ativos, com reflexo nas condições financeiras globais. “Tal cenário exige particular cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica”, destacou.

Por fim, o documento ressalta que a autoridade monetária “seguirá vigilante” e avalia que pode retomar o ciclo de alta “caso julgue apropriado”.

Entenda como a taxa de juros impacta a sua vida

O Brasil segue como o país que tem a segunda maior taxa de juros real do mundo, de acordo com o levantamento do ranking mundial realizado pela MoneYou e Lev Intelligence. Em linhas gerais, a taxa de juros real é obtida pelo desconto da inflação da taxa de juros nominal.

No caso, com a inflação em 5,13% no acumulado dos últimos 12 meses, e uma Selic em 15%, os juros reais estão estimados em 9,51%. O país perde apenas para a Turquia, que tem juros reais em 12,34%. O Brasil fica na frente da Rússia (4,79%), Colômbia (4,38%), e México (3,77%) fechando as cinco primeiras colocações.

A Selic atua como referência para as linhas de crédito. Com os juros elevados, empréstimos bancários ou de outras instituições financeiras ficam mais caros para o público em geral, favorecendo o endividamento. Como consequência, o financiamento de imóveis e veículos também seguem a mesma tendência de alta, dificultando o acesso aos bens de maior valor.

Na mesma esteira, o nível de consumo das famílias deve cair. Isso ocorre porque o crédito tem uma relação direta com o aumento do preço dos produtos e serviços, causando uma redução no poder de compra, uma vez que a dificuldade de financiamento pode fazer os produtores a repassarem os preços.

Por outro lado, a Selic alta favorece os investimentos em renda fixa, uma vez que oferecem remuneração de acordo com a taxa básica de juros. Nesse caso, títulos como tesouro direto, letras de crédito, debêntures e CDBs (Certificado de Depósito Bancário), se tornam mais atrativos no mercado de capitais no longo prazo.

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Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.