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Flotilha Global Sumud: brasileiros detidos em Gaza mandam cartas a familiares; veja

Lisiane Proença e Bruno Gilga estavam a bordo do barco Sirius-Haifa

Lisiane Proença e Bruno Gilga ainda não foram deportados por Israel

Dois brasileiros que estavam na Flotilha Global Sumud, interceptada por Israel, enviaram cartas às famílias após dias sem contato. Lisiane Proença e Bruno Gilga fazem parte do grupo de 15 brasileiros que tentavam levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza.

“Mãe, eu estou bem e forte. Fique bem e confie em mim. Te amo. Pai, obrigada por tudo e fique bem. Eu estou bem e forte. Te amo. Lari, eu não me esqueci o porquê estou aqui. Estamos fortes e juntas. Te amo. Pelo fim do genocídio, pela liberdade de todos os povos”, escreveu Lisiane, em bilhetes publicados pela página Global Movement to Gaza Brazil, que tem divulgado a ação da flotilha.

Lisiane estava a bordo do barco Sirius-Haifa. Ela é viajante, comunicadora popular e atuante em causas ambientais.

Já Bruno escreveu: “Mensagem para a família de Bruno: Estou muito firme e bem, e cada dia aqui é uma oportunidade de seguir com a luta do povo palestino, pelo fim desse regime genocida”.

Bruno também estava no Sirius-Haifa e é porta-voz da delegação brasileira. Trabalha na Universidade de São Paulo (USP), é ativista da CSP-Conlutas e correspondente do Esquerda Diário.

Brasileiros em Gaza

Além da dupla, outros 13 brasileiros foram em direção à Faixa de Gaza e tiveram seus navios interceptados. Apenas um integrante da delegação foi deportado: Nicolas Calabrese, cidadão argentino e italiano e residente do Brasil há mais de dez anos.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou, nesta segunda-feira (6), que deportou mais 171 ativistas da Flotilha Global Sumud, incluindo a ambientalista sueca Greta Thunberg. No sábado, 137 ativistas da flotilha Global Sumud foram deportados para a Turquia.

Horas sem comer

Em entrevista à CNN, Nicolas Calabrese relatou que os ativistas foram expostos a humilhações, fome e sede. A que mais sofreu, segundo ele, foi a ambientalista sueca Greta Thunberg.

“Greta foi a que mais sofreu a humilhação, a provocação constante, as piadas constantes, colocaram a bandeira Israel bem do lado dela, obrigaram ela a beijar a bandeira de Israel”, contou.

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Calabrese contou que os detidos ficaram mais de 15 horas sem comer. “Foi um dos momentos mais violentos. Fomos levados à força, com travas no braço e golpes na cabeça. Ficamos de joelhos no chão quente, olhando para a parede. Dois minutos de joelhos já é ruim, em horas, o tempo não passa”, disse.

“O trajeto do porto para a prisão foi o momento mais difícil. Tive os pulsos amarrados muito apertados e, ao mesmo tempo, os olhos vendados. Quando eu entro no carro-jaula (sic) eu ouço constantemente golpes. Estavam dando socos e tapas nos companheiros. Uma situação muito tensa. O sufoco da superlotação, cada vez mais pessoas entrando”, acrescentou.

Calabrese contou que seus pertences não foram devolvidos. “Eu fui libertado e não tive acesso aos meus pertences, nem ao meu documento da Argentina, só o passaporte italiano. Nem à minha roupa, nem ao meu brinco, minha carteira, minha mochila, meu instrumento, minha calça, nada”, relatou.

Outros deportados relataram as mesmas ações de Israel.

Israel nega

Israel, por outro lado, negou as denúncias. O Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou, neste domingo (5), que as alegações sobre os maus-tratos contra Greta Thunberg e outros membros da Flotilha Global Sumud durante detenção são “mentiras descaradas”.

Associando o nome dado as embarcações que tinham intenção de levar ajuda a Gaza ao grupo Hamas, a pasta disse na rede social X, antigo Twitter, que “as alegações sobre os maus-tratos de Greta Thunberg e outros detidos da flotilha Hamas-Sumud são mentiras descaradas.”

De acordo com a pasta, “todos os direitos legais dos detidos são totalmente respeitados.” O ministério ainda afirmou, sem apresentar provas, que a própria Greta e outros detidos se “recusaram a acelerar sua deportação e insistiram em prolongar sua permanência sob custódia.”

“Greta também não reclamou às autoridades israelenses sobre nenhuma dessas alegações ridículas e infundadas, porque elas nunca ocorreram”, continua o Ministério das Relações Exteriores de Israel em comunicado.

Itamaraty se pronunciou

Na semana passada, o Itamaraty emitiu nota sobre a interceptação e detenção dos ativistas, a qual classificou como “arbitrária”. “O Brasil exorta o governo israelense a liberar imediatamente os cidadãos brasileiros e demais defensores de direitos humanos detidos”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel foi notificado por meio da Embaixada do Brasil em Tel Aviv e da Embaixada de Israel em Brasília sobre a inconformidade do país devido à ação israelense.

“Tendo em vista o caráter pacífico da flotilha e seu objetivo de realizar entrega de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, sua interceptação por forças israelenses constitui grave violação ao direito internacional, incluindo o direito marítimo internacional, em particular a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), que consagra a liberdade de navegação”, acrescentou.

Formada pela PUC Minas, é repórter da editoria de Mundo na Itatiaia. Antes, passou pelo portal R7, da Record.