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Donos da 123Milhas sofrerão condução coercitiva, e CPI das Pirâmides pede apreensão dos passaportes dos dois

Relator Ricardo Silva criticou a ausência dos irmãos à frente da empresa de viagens: ‘os sócios da 123Milhas são marginais!’

Proprietários da 123Milhas serão conduzidos coercitivamente pela polícia para depor à CPI das Pirâmides Financeiras

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras enviou um ofício à Polícia Federal (PF) na noite desta quarta-feira (30) solicitando a condução coercitiva dos irmãos Ramiro Júlio Soares Madureira e Augusto Júlio Soares Madureira, dois dos três sócios à frente da 123Milhas.

Uma determinação da CPI também prevê que sejam recolhidos os passaportes dos irmãos, impedindo-os de sair do Brasil até que sejam prestados esclarecimentos à comissão. Os depoimentos dos proprietários da 123Milhas e de seis diretores ligados ao grupo estão previamente marcados para ocorrer na próxima quarta-feira (6), segundo adiantou o deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), presidente da CPI.

Ramiro Júlio e Augusto Júlio Soares Madureira sofrerão condução coercitiva após faltarem novamente à sessão da CPI das Pirâmides Financeiras. Os depoimentos inicialmente marcados para terça-feira (29) acabaram adiados para quarta-feira (30) a pedido do advogado Eugênio Pacelli, que solicitou um habeas corpus ao Supremo Tribunal Federal (STF). A ministra Cármen Lúcia acatou parcialmente o pedido e adiou o depoimento para 18h de quarta. Os dois, contudo, não compareceram à audiência.

Ao presidente da comissão, deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), o advogados do irmãos alegou que eles se reuniriam às 18h30 com o ministro do Turismo, Celso Sabino (União-PA), e, assim, não poderiam comparecer à comissão.

No ofício enviado à CPI, Pacelli anexou uma troca de e-mails entre um escritório de advocacia e o Ministério do Turismo solicitando o agendamento da reunião. A primeira mensagem data de sete dias atrás, 23 de agosto, cinco dias após o escândalo do cancelamento das passagens vir a público. O e-mail disparado pelo gabinete do Ministério do Turismo indicando que o encontro acontecerá nesta quarta-feira foi enviado às 16h03 desta tarde.

“A documentação em anexo comprova o agendamento prévio do citado compromisso”, afirmou o advogado Eugênio Pacelli no ofício. Segundo ele, os irmãos Ramiro Júlio e Augusto Júlio estarão disponíveis para depor à CPI das Pirâmides a partir da próxima segunda-feira (4) e garantiu que os sócios se comprometem a comparecer no novo horário marcado. “Dispensando intimação formal e custeio das despesas de viagem”, concluiu o advogado.

Ausência gerou indignação entre deputados. A ausência dos sócios da 123Milhas na sessão agendada para o início da noite de quarta-feira (30) gerou mal-estar e indignação entre os parlamentares que compõem a CPI das Pirâmides Financeiras.

O presidente Aureo Ribeiro criticou a agenda dos irmãos com o ministro Celso Sabino, no Turismo. “Me causa estranheza porque a data [do depoimento] estava previamente divulgada (…). Quero lamentar que o ministro do Turismo tenha marcado uma reunião no mesmo momento em que está marcado um depoimento. Quero acreditar que o ministro não tinha essa informação e foi usado pelos sócios da 123Milhas, que já estão usando da boa-fé dos brasileiros”, afirmou.

O relator, deputado Ricardo Silva (PSD-SP), também retaliou a conduta dos proprietários da empresa de viagens. “Quero ler o significado da palavra ‘marginal’”, começou. “Diante das várias acepções da palavra ‘marginal’, podemos falar que os sócios da 123Milhas são marginais. Marginais porque estão à margem da lei e não estão cumprindo com a obrigação de comparecimento a esta comissão parlamentar de inquérito”, disparou.

123Milhas é alvo de investigação na Câmara dos Deputados

A CPI analisa desde 19 de agosto a possibilidade dos negócios da 123 Milhas serem estruturados como uma pirâmide financeira. O relator Ricardo Silva (PSD-SP) reiterou a hipótese citando o recente pedido de recuperação judicial do grupo. “Fui informado há pouco sobre o anúncio de recuperação judicial. [Esse anúncio] reforça a nossa tese de que algo muito errado acontecia ali. Não pelo pedido de recuperação judicial, mas pela forma como se deu”, disparou.

Além da CPI das Pirâmides, os ministérios do Turismo e da Justiça e Segurança Pública igualmente se propuseram a investigar a atuação da 123Milhas e o cancelamento dos serviços contratados pelos clientes. O objetivo é garantir a reparação dos danos causados.

123Milhas: suspensão de emissão de passagens, demissão em massa e recuperação judicial

Grupo mineiro com sede em Belo Horizonte e proprietário da MaxMilhas, a 123Milhas suspendeu no último 18 de agosto a emissão de passagens aéreas adquiridos por clientes na linha promocional para os meses entre setembro e dezembro. O anúncio do cancelamento foi o primeiro indicativo público da crise financeira que assola a empresa. Na última segunda-feira (28), cerca de 80% dos funcionários do grupo acordaram com a notícia de suas demissões e a incerteza sobre a quitação da rescisão trabalhista.

O capítulo mais recente do escândalo ocorreu nessa terça-feira (29), quando o grupo de sócios solicitou recuperação judicial à 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte. Calcula-se que a dívida gire em torno de R$ 2,3 bilhões.

Repórter de política em Brasília. Na Itatiaia desde 2021, foi chefe de reportagem do portal e produziu série especial sobre alimentação escolar financiada pela Jeduca. Antes, repórter de Cidades em O Tempo. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.