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ALMG: emenda sobre salários da segurança pública ganha adesão da oposição a Zema

Segundo turno de votação de projeto para reajustar vencimentos dos professores da rede estadual pode definir rumos de outras categorias do funcionalismo

Forças de segurança têm protestado na Assembleia em prol de recomposição salarial

Deputados estaduais de Minas Gerais se articulam para aproveitar a votação, em segundo turno, do projeto de lei (PL) que concede reajuste de 12,84% aos profissionais da educação para tentar emplacar aumentos a outras categorias. Parlamentares ligados às forças de segurança pública, por exemplo, pretendem apresentar emenda ao texto e permitir ao Executivo estadual que dê o mesmo percentual de recomposição salarial aos agentes policiais. O movimento ganhou a adesão de integrantes da coalizão de oposição ao governador Romeu Zema (Novo).

A votação em segundo turno do PL do reajuste dos professores deve acontecer na quinta-feira (29). Nesta terça-feira (27), os deputados estaduais aprovaram por unanimidade, em primeiro turno, o aumento nos vencimentos dos docentes. E, segundo apurou a Itatiaia, paralelamente às conversas sobre uma emenda destinada à segurança pública, há estudos em torno da viabilidade de tentar incluir, no texto, trechos autorizando um aumento geral a todo o funcionalismo.

Ainda conforme soube a reportagem, setores isolados, como os servidores da Fundação João Pinheiro (FJP), também podem ser contemplados por emendas. Antes de voltar ao plenário para a última etapa antes do envio ao governador Romeu Zema (Novo), a proposta de reajuste aos trabalhadores da educação precisará passar pelo crivo da Comissão de Administração Pública (APU).

No início da tarde, a emenda sobre a recomposição de 12,84% já havia sido assinada por 39 deputados estaduais. O movimento foi liderado por Sargento Rodrigues, que embora seja filiado ao PL, legenda alinhada a Zema, critica a postura do Palácio Tiradentes ante o funcionalismo público. Nessa segunda-feira (26), ele chegou a obstruir a pauta de votações do plenário.

Desta vez, porém, Rodrigues aceitou que o projeto do reajuste da educação fosse aprovado em primeiro turno sem a emenda a respeito da segurança pública. Um acordo costurado entre lideranças da Assembleia transferiu, para o segundo turno, a análise de emendas.

Para o liberal, a adesão dos oposicionistas ao pleito da segurança pública pode ajudar a impulsionar as reivindicações.

“Quem sabe com esse referendo (a assinatura dos deputados à emenda) ele não resolva acatar a emenda e sancioná-la? Os 12,84% são praticamente um terço dos 35,44% que o governador deve”, diz, em menção ao percentual de ganhos salariais que os policiais afirmam ter perdido com a inflação acumulada entre 2015 e o ano passado.

Cássio Soares (PSD), um dos líderes dos deputados aliados a Zema, aponta caráter “simbólico” na emenda defendida por Rodrigues. Ele ressalta o caráter autorizativo da proposta — ou seja, trata-se de consentimento legislativo para o caso de Zema desejar conceder reajuste à segurança pública.

“A proposta tem um valor de pressão da classe para cobrar do governo o reajuste que julgam merecer — e merecem. Mas o governo tem de ter capacidade para pagar e, infelizmente, neste momento, os estudos apontam que não há capacidade (fiscal)”, sentencia.

De acordo com o pessedista, o governo conduz estudos para encontrar formas de melhorar as receitas das forças policiais.

Negociação com servidores gera críticas

A relação entre a gestão Zema e os servidores públicos gera queixas da oposição desde 2019, quando o governador iniciou o primeiro mandato. Segundo Beatriz Cerqueira (PT), eventuais emendas para autorizar o Executivo a conceder aumento de 12,84% a outras categorias são fruto, justamente, dos problemas na interlocução com o funcionalismo.

“O governo fez compromissos que não cumpriu, disse que faria a reposição da inflação e tem negociações com várias categorias, mas não avança nesses processos. E, quando não avança no processo de negociação lá, a tensão vem para cá (o Legislativo)— o que é legítimo, pois a Assembleia é uma casa de representação política”, assinala.

Conforme Sargento Rodrigues, entre março e abril, representantes das forças de segurança promoveram quatro reuniões com integrantes do Palácio Tiradentes para tentar pôr fim ao imbróglio. Alguns dos encontros contaram, inclusive, com a participação de Zema e do vice-governador, Mateus Simões (Novo).

“Todas as possibilidades de interlocução política, mediação e diálogo com o governo a gente tem tentado”, pontua.

Base de Zema vai orientar ‘não’ a emenda

Em que pese o alto número de subscrições à emenda sobre a segurança pública, Cássio Soares vai pedir aos colegas governistas que votem contrariamente ao dispositivo. Segundo ele, é preciso respeitar o fato de uma proposta de reajuste salarial ser de prerrogativa exclusiva do poder Executivo.

“(Entre) votar meramente uma emenda autorizativa para o governo vetar e, depois, o veto voltar (à Assembleia) e ser um problema para a Casa, prefiro que a gente siga o rito mais correto, que é compreender a situação do estado e acatar apenas o projeto enviado à Assembleia, que foi do reajuste da educação”, sustenta.

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.