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Fim do IPVA Complementar em Minas Gerais deve ser votado nesta terça-feira (20)

Proposta amplia benefício fiscal para locadoras de veículos

Servidores da segurança pública protestam durante reunião na ALMG’

Em uma sessão tumultuada, a Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) aprovou na noite desta segunda-feira (19) parecer favorável ao projeto de lei que amplia o benefício fiscal para locadoras de Minas Gerais que atuam na revenda de veículos. O projeto segue agora para votação em plenário, o que deve ocorrer já nesta terça-feira (20). Em seguida, caberá ao governador Romeu Zema (Novo) sancionar ou vetar o texto.

A reunião foi tensa porque servidores da segurança pública protestaram contra o benefício fiscal. Eles cobram que o governo conceda recomposição salarial de 35% à categoria. Em determinado momento, o deputado João Magalhães (MDB) deixou a área reservada e foi tirar satisfação com os manifestantes após ser xingado. Na confusão, ele foi agredido, assim como um segurança da ALMG. Um dos manifestantes, Carlos Silveira, disse ter sido agredido por Magalhães.

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Atualmente, a alíquota do IPVA em Minas Gerais é de 4%. As locadoras pagam 1%, mas pela legislação atual é necessário complementar os 3 pontos percentuais caso elas revendam os veículos. É o chamado IPVA Complementar.

O projeto aprovado na FFO retira a necessidade de complementação. Ou seja, mesmo em caso de revenda, as locadoras continuarão pagando 1%. O IPVA Complementar foi criado em 2017, mas só foi regulamentado em dezembro de 2022. Originalmente, o projeto previa anistiar as locadoras pela dívida deste período, que somaria R$ 1,2 bilhão. Este ponto foi retirado pelos deputados.

A base de governo, que defende o projeto, afirma que o fim do IPVA Complementar é necessário para que as locadoras não saiam de Minas Gerais. Se isso ocorrer, dizem, o estado perderia empregos e arrecadação de IPVA.

“O projeto foi debatido amplamente e chegamos a um bom termo. O que vai gerar de impostos, 15 mil empregos estão mantidos, assim como a arrecadação tanto do IPVA quanto do ICMS dos carros que são vendidos”, disse Zé Guilherme (PP), relator do projeto.

Já a oposição critica a renúncia fiscal em um contexto em que o governo Zema quer ingressar no Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e que não há previsão de recomposição inflacionária para os servidores públicos — com exceção dos profissionais da educação básica, que vão receber 12,84% de reajuste.

“Nós ainda vamos tentar obstruir no plenário. Um governo que fala que não tem recurso para pagar o piso aos professores, para dar reajuste aos servidores. Dar uma anistia dessas a grandes empresas, tem algo errado”, afirmou o líder da Minoria, Jean Freire (PT).

A oposição conseguiu incluir dois pontos no texto. O primeiro autoriza o governo a anistiar as dívidas de Santas Casas e hospitais filantrópicos com a Cemig. O segundo autoriza o governo a isentar da cobrança de IPVA veículos comprados por associações comunitárias, entidades sociais e hospitais filantrópicos.

IPVA Complementar

A alíquota padrão de IPVA em Minas Gerais é de 4%. Desde 2003, as locadoras pagam 1%. Porém, em 2017, no governo de Fernando Pimentel (PT), foi aprovada uma lei que determina que, caso a locadora venda o veículo, ela teria que pagar ao governo de Minas o imposto “cheio”. Ou seja, em vez de 1%, a empresa pagaria 4%. É o chamado IPVA Complementar.

O pagamento é proporcional: se o carro for vendido no mês de junho, por exemplo, a locadora paga a complementação referente ao período de julho a dezembro daquele ano.

Em março, o deputado estadual Zé Guilherme (PP), integrante da base do governo Zema na ALMG, propôs acabar com a existência do IPVA Complementar com efeitos retroativos a 29 de dezembro de 2017, quando a lei que criou a cobrança passou a valer.

Nesses termos, o governo de Minas abriria mão de R$ 1,2 bilhão que teria a receber das locadoras pelas vendas de veículos desde que o IPVA Complementar foi criado, em 2017. Como a complementação só foi regulamentada em dezembro de 2022, os pagamentos não estavam sendo realizados neste período.

Porém, a anistia foi retirada do texto na semana passada por uma emenda apresentada pelo deputado estadual Alencar da Silveira Jr. (PDT). O relatório, no entanto, manteve a proposta de acabar com o IPVA Complementar.

Na prática, se a atual versão da proposta for aprovada em plenário na terça-feira (20) e sancionada por Zema, as locadoras terão que pagar IPVA Complementar referente ao período entre 2017 e dezembro de 2022, mas não precisarão mais pagar a complementação no futuro. As empresas, no entanto, acionaram o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para não pagarem o valor retroativo.