Ouvindo...

Polarização Política e Economia

Pesquisa identifica onde Lula perdeu apoio desde a posse

Temas econômicos acirram a polarização

Na última semana a Quaest publicou mais uma pesquisa da série de avaliação de governos realizada em parceria com a Genial Investimentos. A pesquisa conseguiu identificar onde Lula perdeu apoio. Ao contrário do que alguns disseram, a piora na avaliação não aconteceu de forma generalizada. Entre quem votou no presidente em outubro, a aprovação de fevereiro para abril oscilou apenas 1 ponto percentual. Ou seja, os lulistas seguem satisfeitos.

Lula perdeu apoio entre quem não votou nele, mas que em fevereiro estava disposto a lhe dar um voto de confiança. Em fevereiro, 51% dos eleitores de Bolsonaro consideravam o governo Lula ruim ou péssimo. Agora são 60%. Entre quem votou branco e nulo ou não foi votar, a desaprovação era de 18% e subiu para 22%. O governo Lula perdeu a gordura que tinha acumulado com a lua-de-mel. Agora tem apenas o apoio de quem efetivamente votou nele.

O que esse dado revela sobre o atual status político do país? A eleição passou e nós continuamos polarizados. Essa continuidade da divisão social por conta do comportamento eleitoral por tanto tempo é que tem nos permitido classificar esta como a era da calcificação política.

Assim como no corpo, a calcificação produz endurecimento e rigidez: as pessoas ficam mais firmes no lugar e mais difíceis de se afastarem de suas predisposições. A calcificação crescente é uma consequência lógica da polarização crescente, mas os conceitos não são idênticos.

A polarização significa mais distância entre os eleitores de candidatos opostos em termos de seus valores, ideias e visões sobre política. A calcificação significa menos vontade de desertar do seu candidato, como romper com o candidato do seu partido ou até votar no partido oposto. Há, portanto, menos chance de eventos novos e até dramáticos mudarem as escolhas das pessoas nas urnas.

A calcificação é tão forte que até mesmo diante de um fato objetivo é possível observar seu efeito. Perguntamos aos brasileiros qual a avaliação da economia brasileira nos últimos 12 meses. Até Outubro de 2022, os eleitores do Lula achavam que ela tinha piorado. Os eleitores do Bolsonaro, por sua vez, achavam que a economia tinha melhorado. Os eleitores da situação elogiavam o trabalho do governo, os da oposição, criticavam.

O impressionante foi o que aconteceu com as avaliações logo depois da eleição. Eleitores de Lula que andavam criticando a economia no último ano, passaram a acreditar que ela melhorou. Bolsonaristas que andavam elogiando a economia nos últimos 12 meses em outubro, passaram a achar que tudo estava piorando. Entre outubro e abril não se passou tanto tempo assim, claramente não se passaram 12 meses. Mas a avaliação mudou substancialmente.

Esse comportamento mostra como as opiniões e atitudes estão sendo afetadas pelas posições políticas dos eleitores e não o inverso. Esse processo, conhecido como raciocínio motivado, tem, ajudado a explicar vários fenômenos atuais e mostram o tamanho do desafio que o governo tem. Governar na calcificação é ser aceito pelos seus e rejeitados pelos outros, independentemente de como a situação real impacta nossas vidas.

Felipe Nunes é Ph.D. em ciência política e mestre em estatística pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). É professor de Ciência Política na UFMG e sócio-fundador da Quaest. É especialista em pesquisa de opinião e é o inventor do Índice de Popularidade Digital (IPD). Recebeu prêmios da American Political Science Association, da Divisão de Doutores da UCLA, da Comissão Fulbright, da Fundação Lemann, do CEPESP-FGV e do Clube de Marketing Político (CAMP).