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Laudo sobre instabilidade de rejeitos da Vale foi feito em 2020, mas empresa inseriu informação no sistema só neste ano

Com base na informação apresentada pela mineradora, Agência Nacional de Mineração decidiu interditar as pilhas de rejeitos na Mina de Fábrica Nova, em Mariana.

Área onde está situada a Mina de Fábrica Nova, em Mariana

O laudo da consultoria Walm, que atesta instabilidade nas pilhas de rejeito da Mina de Fábrica Nova, em Mariana, foi realizado em 2020, mas foi protocolado no Sistema Eletrônico de Informação (SEI) somente no dia 25 de setembro deste ano. Conforme a Itatiaia adiantou, a partir do protocolo do documento, a Agência Nacional de Mineração (ANM) determinou, na sexta-feira (10), a interdição do local e a suspensão das atividades. A Defesa Civil Estadual vai avaliar a evacuação de 295 pessoas que vivem na área da mancha.

O atraso de três anos no protocolo do documento, feito pela mineradora Vale, deve ser alvo de investigação. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) vai solicitar à ANM um relatório completo da situação e dos riscos e, em segundo plano, pode propor a reabertura da CPI das Barragens. "É tão grave quanto se tivesse rompido. Nós temos que tratar esse assunto com a mesma seriedade que se tivesse acontecido”, afirmou o senador.

A coluna teve acesso, com exclusividade, ao relatório da Agência Nacional de Mineração que comprova o atraso na comunicação de risco que pode ter deixado a população sob perigo sem que as autoridades fiscalizadoras tivessem conhecimento.

A Itatiaia também acessou o laudo da consultoria Walm, de 2020, informando à mineradora Vale que as pilhas de rejeitos estavam instáveis.

A ANM e a Defesa Civil Estadual vão inspecionar a Mina de Fábrica Nova e reavaliar o risco nesta segunda-feira (13). Procurada pela Itatiaia, a Vale informou que aguarda inspeção da ANM que está sendo realizada nesta segunda (13). “A Vale informa que, na última sexta-feira (11/11), a Agência Nacional de Mineração interditou, preventivamente, as atividades de disposição de estéril nas pilhas PDE Permanente I, PDE Permanente II e PDE União Vertente Santa Rita, da mina Fábrica Nova, em Mariana. A empresa acompanha vistoria da ANM e Defesa Civil, nesta segunda-feira, para os esclarecimentos necessários sobre as condições de estabilidade das estruturas, que permanecem inalteradas. Importante reforçar que as estruturas geotécnicas da companhia são vistoriadas frequentemente pela agência reguladora e monitoradas permanentemente por equipe técnica especializada”.

No final do dia, dez horas após a notícia da interdição das pilhas que poderiam desestruturar a barragem, a mineradora enviou nova nota à imprensa dizendo não há risco de rompimento, que não haverá necessidade de evacuação e confirmando a interdição das pilhas de minério, conforme já havia sido informado pela nossa reportagem. “A Vale esclarece que não há risco iminente atrelado às pilhas de estéril da mina de Fábrica Nova, em Mariana (MG), assim como não há a necessidade da remoção de famílias. Diferentemente do que foi veiculado por alguns veículos de imprensa, a pilha de estéril é uma estrutura de aterro constituída de material compactado, diferente de uma barragem e não sujeita à liquefação. Importante também esclarecer que o dique de pequeno porte localizado à jusante de uma das pilhas tem declaração de condição de estabilidade positiva. A Vale reitera que a segurança é um valor inegociável e que cumpre todas as obrigações legais. A Vale continuará colaborando com as autoridades e fornecendo todas as informações solicitadas.”

Edilene Lopes é jornalista, repórter e colunista de política da Itatiaia e podcaster no “Abrindo o Jogo”. Mestre em ciência política pela UFMG e diplomada em jornalismo digital pelo Centro Tecnológico de Monterrey (México). Na Itatiaia desde 2006, já foi apresentadora e registra no currículo grandes coberturas nacionais, internacionais e exclusivas com autoridades, incluindo vários presidentes da República. Premiada, em 2016 foi eleita, pelo Troféu Mulher Imprensa, a melhor repórter de rádio do Brasil.