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Doação de órgãos entre vivos: entenda o processo pelo qual o cantor Chrystian passaria antes da morte

A doadora seria a esposa dele, Key Vieira, e a cirurgia já tinha até data marcada

A doação de órgãos entre vivos diminui significativamente o tempo de espera na fila do SUS

O cantor Chrystian, da dupla com Ralf, morreu na noite dessa quarta-feira (19) em um hospital em São Paulo em decorrência de um choque séptico, o mesmo que infecção generalizada, por causa de uma pneumonia agravada por comorbidades, segundo o Hospital Samaritano Higienópolis.

O cantor passaria por um transplante de rim no fim deste ano, e a doadora seria a esposa dele, Key Vieira. Ele tinha uma condição genética chamada rim policístico, o que gerou a necessidade de um novo órgão. A princípio, o transplante aconteceria no dia 11 de março deste ano. Porém, durante os exames pré-operatórios, foi preciso realizar um cateterismo em Chrystian e, para isso, era necessário que ele tomasse um remédio para afinar o sangue durante seis meses.

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No Brasil, quem quiser ser um doador de órgãos vivo precisa ser “maior de idade e juridicamente capaz, saudável e que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua própria saúde”, de acordo com o Governo Federal.

Um doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula ou parte dos pulmões. Pela legislação, parentes até o quarto grau (pais, filhos, irmãos, avós, tios e primos) e cônjuges podem ser doadores. A doação de órgãos de pessoas vivas que não são parentes, só acontece mediante autorização judicial.

Além de se enquadrar no que diz a lei, o doador vivo precisa atender a outros requisitos.

Quem pode ser doador vivo no Brasil?

O médico nefrologista e professor adjunto da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais (CMMG), Augusto Cesar Soares dos Santos Jr, explica que antes de ser oficialmente um doador, o candidato passa por uma análise minuciosa.

“O candidato a doador será avaliado por uma equipe de médicos credenciados pelo Ministério da Saúde durante consultas pré-transplante. Esta avaliação é extensa e minuciosa e visa garantir a segurança tanto do doador, quanto do receptor”, afirma.

Além disso, deve atender a uma série de requisitos, sendo eles:

  • Ser genuinamente um doador voluntário;
  • Estar em boas condições de saúde física e mental;
  • Ter função renal normal na ocasião da doação e baixo risco de doenças nos rins ao longo da vida;
  • Ter compatibilidade sanguínea e de sistema imunológico com o receptor.

O último requisito requer muita atenção, porque em caso de incompatibilidade, o rim implantado pode ser rejeitado.

Compatibilidade entre doador e receptor

Os testes de compatibilidade servem tanto para os doadores vivos quanto para os falecidos. “É muito importante, tanto para o transplante com doador vivo quanto com falecido, que o sangue e os tecidos sejam compatíveis. Essa semelhança evita que o sistema de defesa imunológica do receptor estranhe o novo rim e o rejeite”, explica o Dr. Augusto César.

Para determinar a compatibilidade, são feitos mais de um teste. Um deles é o teste imunológico, que são dois: o de tipo sanguíneo (ABO), e os de antígenos de histocompatibilidade (HLA). De acordo com o nefrologista, “o melhor doador de rim é aquele que, além da compatibilidade do tipo sanguíneo, também tenha os antígenos de histocompatibilidade mais semelhantes aos do receptor”.

Depois de passar por esses testes, vem a etapa da prova-cruzada, chamada de cross-match), em que se avalia se há anticorpos no receptor dirigidos contra os antígenos do doador que possam causar rejeição imediata. Nesse caso, se o teste da prova-cruzada for positivo, a doação não poderá acontecer.

Como acontece o processo da doação de órgãos?

Assim como aconteceria com o cantor Chrystian, que já tinha programado a sua cirurgia, nos casos em que o doador vivo, a internação é feita de forma programada. A ação é necessária para que sejam realizados exames específicos.

Conforme o nefrologista, “a cirurgia do doador começa quase no mesmo momento em que a do receptor, em salas próximas ou contíguas, com duas equipes diferentes. O objetivo é que o tempo entre a retirada do rim do doador vivo e o implante no receptor seja o menor possível”.

Como é a recuperação do processo?

Para o doador vivo, o médico diz que “o processo de recuperação é bastante rápido”. A permanência no hospital só vai se prolongar caso haja complicações, o que é raro, de acordo com o Dr. Augusto César. Isso porque, antes da cirurgia, a seleção minuciosa dá conta de filtrar somente os candidatos com risco de complicações baixo.

Já para o receptor, o tempo de recuperação é ditado pelo início do funcionamento do novo órgão. O médico descreve o procedimento: “O novo rim pode começar a funcionar imediatamente, e então já não será preciso mais fazer a diálise, ou pode levar algumas semanas para retomar suas atividades, sendo necessário, neste caso, seguir fazendo diálise”.

Ele ainda ressalta que “os resultados de transplantes provenientes de doadores vivos aparentados são geralmente excelentes”.

Importância da doação de órgãos entre vivos

A doação de órgãos promove uma redução significativa no tempo de espera nas famosas filas do Sistema Único de Saúde (SUS), já que “aumentam a disponibilidade de órgãos para pacientes”, como explica o nefrologista. Para ele, “a doação de órgãos é um ato de amor e altruísmo que transforma vidas”.

*Sob supervisão de Enzo Menezes e Marina Borges


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Paula Arantes é estudante de jornalismo e estagiária do jornalismo digital da Itatiaia.