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Senado aprova PEC 66 e governo garante R$ 12 bi extras no teto de gastos

Proposta adia precatórios municipais e cria transição para dívidas judiciais da União

Plenário do Senado Federal

O Senado aprovou nesta terça-feira (2) a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66, considerada estratégica para o governo Lula, mas que passou por forte disputa política e votação apertada. O texto foi aprovado por 71 votos a favor e 2 contrários, mas a manutenção de um dos dispositivos centrais exigiu o mínimo necessário de votos: 49 senadores.

A PEC trata de dois pontos sensíveis para a política fiscal brasileira: o adiamento no pagamento de precatórios municipais e a inclusão gradual das dívidas judiciais da União (precatórios federais) na meta fiscal.

O que a PEC 66 estabelece

  • Precatórios municipais: adia o pagamento dessas dívidas judiciais, atendendo pleito de prefeitos e entidades municipalistas.
  • Precatórios da União: apenas 10% dessas despesas entrarão na conta da meta fiscal a partir de 2027. A regra funciona como uma transição até o fim da flexibilização definida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
  • Teto de gastos: amplia em R$ 12 bilhões o limite de despesas em 2025, com a justificativa de cobrir o aumento da licença-maternidade após decisão do STF que ampliou o acesso ao benefício.
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A disputa política em plenário

O ponto mais polêmico foi justamente a ampliação do teto de gastos.

  • O PL recuou de parte de seus destaques e concentrou a disputa na tentativa de excluir os R$ 12 bilhões extras.
  • A manutenção do dispositivo foi garantida com o mínimo de votos necessários (49 a 28). Sem esse número, o governo perderia o espaço fiscal que considera essencial.
  • A base governista correu risco real de derrota, já que o União Brasil, por estar federado com o PP, orientou voto contra o Palácio do Planalto.

O papel dos atores políticos

  • Jaques Wagner (PT-BA): retornou temporariamente das licenças médicas para reforçar a articulação.
  • Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG): surpreendeu ao votar a favor do governo, garantindo a diferença mínima necessária.
  • Rogério Marinho (PL-RN): acusou o governo de usar a PEC como forma de abrir espaço para gastos em ano eleitoral, ampliando riscos de desequilíbrio orçamentário.
  • Rogério Carvalho (PT-SE): prometeu que o Executivo enviará adendo ao Orçamento prevendo explicitamente que os R$ 12 bilhões adicionais serão usados apenas para o pagamento de licença-maternidade.

Por que importa

A PEC 66 foi aprovada em meio a forte pressão dos municípios, que reivindicam previsibilidade no pagamento de precatórios. Para o governo federal, o ponto central era assegurar espaço fiscal e administrar o impacto da decisão do STF sobre a licença-maternidade.

Em termos práticos:

  • O governo manteve o alívio fiscal de R$ 12 bilhões para 2025, mas quase viu a medida ruir.
  • A regra de transição para os precatórios federais evita uma explosão imediata de despesas na meta fiscal, diluindo o impacto até 2027.

Impactos da PEC 66 em Minas Gerais

1. Municípios mineiros

2. Credores de precatórios

  • Espera maior: cidadãos e empresas que ganharam ações contra municípios mineiros terão de aguardar mais tempo para receber seus créditos. Isso afeta, por exemplo, servidores aposentados, fornecedores e contribuintes que discutiram tributos na Justiça.
  • Insegurança jurídica: o adiamento recorrente de precatórios pode reforçar a percepção de que o poder público não cumpre decisões judiciais no prazo previsto, o que pode gerar mais judicialização.

3. União e reflexos em Minas

4. Política estadual

  • O debate pode fortalecer a pressão de prefeitos mineiros sobre a bancada do estado no Congresso, cobrando articulação para garantir que eventuais recursos livres se convertam em investimentos locais.
  • Para parlamentares da oposição, há margem para criticar o governo federal por adiar pagamentos que afetam diretamente cidadãos mineiros.
Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.