Privatização da Copasa: ALMG aprova alterações em agência reguladora em primeiro tuno

Privatização da Copasa: ALMG aprova alterações em agência reguladora em primeiro tuno

Deputados em reunião extraordinária no plenário na manhã desta quarta-feira (3)

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou em primeiro turno, nesta quarta-feira (3), dois projetos que reestruturam a Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado (Arsae-MG). Os textos integram o pacote de medidas associadas à privatização da Copasa, estabelece novas capacidades de atuação para o órgão controlador e cria blocos regionais para a gestão dos serviços de abastecimento hídrico e coleta de esgoto nos municípios mineiros.

Originalmente enviado à Casa na forma do Projeto de Lei (PL) 3.739/2025 pelo governador Romeu Zema (Novo), o texto foi desmembrado em processo que deu origem ao PL 4.552/2025. Ambos chegaram ao plenário nesta quarta e foram aprovados por 48 votos a 14 e 35 a 20, respectivamente. O primeiro projeto agora volta à Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) e, o segundo, à Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável antes de voltarem ao plenário.

Com o desmembramento dos projetos, coube ao PL 3.739 estabelecer a criação de unidades regionais de abastecimento e gestão de resíduos e a divisão do mapa mineiro em Unidades Regionais de Esgotamento Sanitário e Drenagem e Manejo das Águas Pluviais Urbanas (Uraeds). Os 853 municípios mineiros ficam divididos da seguinte maneira:

  • Uraed 1: englobando os 545 municípios do Estado atendidos pela Copasa
  • Uraed 2: englobando os 151 municípios mineiros nos quais o serviço de saneamento é prestado pelo próprio município ou por agentes privados
  • Uraed 3: englobando os 61 municípios integrantes da Bacia do Rio Doce, que não são atendidos pela Copasa. Eles deverão ser beneficiados por recursos vinculados a fundo perdido, provenientes do Acordo de Reparação firmado em decorrência do desastre socioambiental de Mariana
  • Uraed BRVJ: Bloco de referência contemplando 96 municípios do Vale do Jequitinhonha e do Mucuri que são atendidos pela Copasa e pela Copanor

O primeiro texto foi aprovado em plenário de forma rápida e sem a manifestação dos parlamentares. Já o PL 4.552/2025 recebeu críticas por parte de deputados de distintas posições ideológicas. Eduardo Azevedo (PL) encaminhou seu voto contrário ao projeto afirmando que há no texto uma previsão de que o financiamento da Arsae, antes feito via Copasa, passará a ser feito a partir de uma taxa cobrada direto do consumidor.

Bella Gonçalves (PSOL) também encaminhou o voto contrário com base na autonomia financeira para ampliar o escopo de atuação da agência. A deputada afirmou que não há no projeto informações que embasem a reestruturação do órgão controlador.

Aprovado em primeiro turno, o PL 4.552/2025 amplia as atividades da Arsae e coloca sob sua fiscalização os serviços de energia e gás natural. O nome do órgão, inclusive, passará a ser “Agência Reguladora de Saneamento e Energia de Minas Gerais” com sua eventual aprovação em segundo turno.

Ao longo da tramitação do texto de Zema na Assembleia, os deputados incluíram no projeto a determinação de que a Arsae pode passar a elaborar sua própria proposta orçamentária. Os valores serão enviados à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) para fins de consolidação no projeto de lei orçamentária anual (LOA).

O texto ainda prevê que a Assembleia, com apoio do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG), atue com órgãos de controle externo da agência. Entre as determinações está a obrigação da Arsae enviar relatórios periódicos de sua atuação ao Poder Legislativo Estadual.

A Copasa no Propag

A reestruturação da Arsae é apontada como uma medida associada aos processos de privatização da Copasa. A ampliação das atividades da agência e a organização do território para os serviços de água e esgoto são apontadas pelo governo estadual como necessárias para cumprir as exigências do Marco Legal do Saneamento.

O PL 4.380/2025 teve sua tramitação precedida por uma atribulada discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, também de autoria de Zema, que derrubou a exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa.

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados, incluindo os imóveis do estado.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido. Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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