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Bolsonaro escapa da prisão por ora, mas Moraes impõe nova advertência

Ministro do STF rejeita pedido da defesa, mantém restrições e diz que uso de redes por terceiros para divulgar falas de Bolsonaro pode levar à prisão preventiva

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em cerimônia de posse de Alexandre de Moraes na presidência do TSE, em 2022

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu manter as medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e rejeitou o pedido da defesa para flexibilizar a proibição de uso de redes sociais. A decisão foi publicada nesta quinta-feira (24). Com a decisão, Bolsonaro permanecerá livre da prisão preventiva, pelo menos por ora.

Leia mais: Moraes dá 24h para defesa de Bolsonaro explicar descumprimento de medida cautelar

Conforme a decisão, Bolsonaro continuará obrigado a usar tornozeleira eletrônica, cumprir recolhimento domiciliar no período noturno e está proibido de usar redes sociais - diretamente ou por meio de terceiros - além de manter distância de embaixadas e autoridades estrangeiras.

A defesa havia questionado se a restrição incluiria também entrevistas e discursos. Moraes foi claro: Bolsonaro pode conceder entrevistas e participar de eventos públicos ou privados, desde que respeite os horários impostos. No entanto, não pode usar essas falas como “material pré-fabricado” para ser divulgado nas redes sociais por terceiros, especialmente em ações coordenadas com o que o ministro chama de “milícias digitais”.

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O ministro afirmou que o ex-presidente tem adotado um “modus operandi criminoso”, semelhante ao do filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com a utilização de discursos, vídeos e postagens para influenciar o processo judicial e gerar pressão sobre autoridades. Segundo ele, isso configura possível coação, obstrução de investigação e até atentado à soberania nacional.

Moraes citou uma gravação recente em que Bolsonaro exibe a tornozeleira eletrônica em um vídeo que foi publicado nas redes sociais do filho. Para o relator, trata-se de uma tentativa de burlar as determinações do STF, o que poderia justificar até a prisão preventiva.

Apesar de considerar o episódio uma infração, o ministro avaliou que a conduta foi isolada e decidiu não converter as medidas em prisão. No entanto, fez um alerta direto: “A Justiça é cega, mas não é tola.” Se houver novo descumprimento, a prisão será decretada imediatamente.

Até o momento, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda não se manifestou.

Entenda a confusão

Na segunda-feira (22), o ministro Alexandre de Moraes determinou que a defesa de Jair Bolsonaro prestasse esclarecimentos, em até 24 horas, sobre a possível violação da medida cautelar que proíbe o ex-presidente de usar redes sociais - direta ou indiretamente.

A ordem veio após a divulgação de vídeos nas redes sociais nos quais Bolsonaro aparece exibindo a tornozeleira eletrônica e fazendo discurso, durante um ato com aliados na Câmara dos Deputados. As imagens foram publicadas em perfis de terceiros, o que, segundo Moraes, configura tentativa de burlar a decisão do STF.

O ministro reforçou que a proibição se estende a qualquer transmissão, retransmissão ou veiculação de conteúdos - como vídeos, áudios ou entrevistas - inclusive por meio de terceiros. Ele também alertou que, caso a defesa não justificasse adequadamente a conduta, poderia decretar prisão imediata do ex-presidente.

E porque Bolsonaro está de tornozeleira?

Bolsonaro foi alvo de medidas restritivas do STF por suspeita de tentar interferir nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. Segundo o ministro Alexandre de Moraes, o ex-presidente usou redes sociais e aliados para atacar instituições, pressionar autoridades e espalhar desinformação.

A Corte também apontou um ‘modus operandi’ coordenado com seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, após uma operação da PF, viajou aos Estados Unidos e se reuniu com parlamentares e lideranças estrangeiras, o que foi interpretado como tentativa de influenciar indevidamente o processo e gerar pressão internacional sobre as autoridades brasileiras.

Nos últimos dias, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou medidas tarifárias contra o Brasil, citando diretamente o caso de Bolsonaro como parte das tensões políticas que motivaram sua decisão.

Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio