Futebol, Senhor dos Anéis e bronca: o segundo dia de julgamento dos ‘kids pretos’

Durante as sustentações orais desta quarta-feira (12), advogados protagonizaram momentos inusitados

Julgamento da Ação Penal 2696 -Núcleo 3 - 12/11/2025

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) realizou nesta quarta-feira (12) o segundo dia de julgamento dos dez réus do núcleo 3, conhecido como o grupo dos “Kids Pretos”, no processo sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

A sessão foi dedicada às sustentações orais de quatro advogados de defesa que não conseguiram se manifestar no primeiro dia de julgamento, encerrado na terça-feira (11).

Durante as falas das defesas houve momentos inusitados, com direito a piadas sobre futebol, referências ao filme Senhor dos Anéis e até uma bronca do ministro Flávio Dino, sem citar nomes.

Título internacional

Durante sua fala, o advogado Lissandro Sampaio, que representa o tenente-coronel Ronald Araújo, aproveitou para dizer que é torcedor do Internacional. O comentário gerou uma brincadeira entre os ministros.

O presidente da Primeira Turma, Flávio Dino, provocou o relator Alexandre de Moraes, torcedor do Corinthians.

“Doutor, o Internacional ganhou do Corinthians no Campeonato Brasileiro de 76, então o ministro Alexandre não curtiu a sua lembrança”, disse Dino.

Imediatamente, Moraes respondeu em tom de brincadeira:

“Em 1976, se houvesse VAR, aquele gol de falta seria anulado. A bola não entrou. Ainda temos esperança de anular aquele resultado”, afirmou Moraes.

Senhor dos Anéis

Outro momento curioso aconteceu durante a sustentação do advogado Igor Laboissière, defensor do tenente-coronel Sérgio Cavaliere, que começou seu discurso citando o clássico “Senhor dos Anéis” para ilustrar sua tese jurídica.

“No exórdio dessa sustentação oral, recorro à ilustração do Senhor dos Anéis, com o escopo de conferir maior clareza argumentativa e lançar luz sobre o ponto nuclear da controvérsia concernente a Sérgio Cavaliere”, afirmou o advogado.

A referência literária conseguiu tirar risos discretos dos ministros, que seguiram com o julgamento.

Bronca de Dino

O clima, porém, ficou mais tenso após a fala do advogado Jeffrey Chiquini, que defende o tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo.

Durante sua sustentação, o advogado afirmou que a apuração da Polícia Federal (PF) e da Procuradoria-Geral da República (PGR) foi “a pior investigação da história” e questionou a credibilidade das provas.

Sem citar nomes, Flávio Dino reagiu com firmeza após a fala e fez um discurso em defesa da postura institucional do STF e do respeito durante os julgamentos.

“Quem acompanha este tribunal sabe que as sustentações orais têm sido valorizadas. O Supremo saberá, como é da sua tradição, aquilatar com seriedade o acervo probatório das partes”, disse Dino.

O ministro também destacou que a tribuna do STF exige respeito e serenidade.

“Esta tribuna não é parlamentar nem do Tribunal do Júri. Vale também para manifestações externas. Isso se chama lealdade”, completou.

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Repórter de política em Brasília, com foco na cobertura dos Três Poderes. É formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) e atuou por três anos na CNN Brasil, onde integrou a equipe de cobertura política na capital federal. Foi finalista do Prêmio de Jornalismo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2023.

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