Ouvindo...

Mesmo com MDB na liderança de Zema na ALMG, Gabriel Azevedo rejeita PEC do Referendo

Em anúncio de sua pré-candidatura ao Governo de Minas nesta terça-feira (4), Gabriel Azevedo criticou a PEC que derruba a consulta popular para a privatização da Copasa

Ao lado de Baleia Rossi e Newton Cardoso Jr — presidentes nacional e estadual do MDB, respectivamente — Gabriel Azevedo lançou sua pré-candidatura ao Governo de Minas

Durante o anúncio de sua pré-candidatura ao Governo de Minas pelo MDB, Gabriel Azevedo se manifestou contra a chamada Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Referendo, texto do governador Romeu Zema (Novo) que derruba a exigência de consulta popular para autorização da privatização da Copasa. Na tarde desta terça-feira (4), o ex-presidente da Câmara disse que o partido não tem ‘medo do povo’ e minimizou o fato de a atual liderança do Executivo Estadual na Assembleia Legislativa (ALMG) estar sob a batuta de um emedebista.

Ao lado dos deputados federais Baleia Rossi, presidente nacional da legenda; e Newton Cardoso Jr., o presidente estadual da sigla, Gabriel Azevedo fez duras críticas à investida do governador Romeu Zema para retirar da Constituição de Minas Gerais a prerrogativa popular para autorizar a venda da companhia de saneamento.

“A palavra povo não é um problema para o MDB. Se eu fosse governador, eu jamais mandaria para a assembleia uma proposta que retira do povo o direito de opinar sobre a Copasa. Jamais. Jamais. E isso é o MDB. Aqui eu tenho o direito de opinar e de ter o meu juízo. Quem inseriu (o referendo) na Constituição, com muito esforço, foi o MDB [...] Eu não tenho medo da iniciativa privada, não tenho medo de discutir Copasa. Mas eu tenho medo de que uma discussão acelerada simplesmente contribua para agradar o governo e não pense no povo”, afirmou.

A chamada ‘PEC do Referendo’ tramita em segundo turno na Assembleia e deve ser votada já nesta quarta-feira. A proposta muda a Constituição mineira em um trecho acrescentado em 2001 sob a gestão do governador Itamar Franco e do vice-governador Newton Cardoso, ambos do então PMDB.

Desde o início do século, para vender estatais de energia, saneamento e gás natural em Minas é necessário realizar um referendo popular. A proposta de Zema na PEC 24/2023 retira essa exigência para a privatização da Copasa.

Nomes do MDB atuam pela aprovação da PEC

Apesar do papel do MDB na inclusão do referendo da constituição, vinte anos após o feito, o partido está também na linha de frente pela mudança no texto que retira a consulta popular da lei estadual. O deputado estadual João Magalhães (MDB) é o líder de Zema na Assembleia e, portanto, o principal articulador para o avanço das pautas privatistas do Executivo na Casa.

Além disso, na presidência da Casa e com a responsabilidade de pautar os projetos em plenário está outro integrante do partido, o deputado Tadeu Martins Leite (MDB).

Questionado sobre as diferentes perspectivas existentes dentro do MDB em relação à PEC do Referendo, Gabriel Azevedo elogiou seus correligionários na Assembleia e disse que há na legenda uma liberdade para este tipo de divergência.

“Se Tadeu e João viajarem, acaba ou pára o governo. O MDB tem dois deputados, um é o presidente e o outro é o líder. O governo se atrasou e coisas que deveriam estar sendo discutidas lá no primeiro ano, segundo ano de governo, entraram em pauta agora de maneira açodada. O presidente não vota e ele não tem exatamente um posicionamento. Ele pauta. E o líder de governo, claro, tem o seu compromisso com o governo. E nós respeitamos a postura dos dois. Só que eu quero mais uma vez ressaltar a minha postura independente”, declarou o pré-candidato ao governo estadual.

Os projetos que visam a privatização da Copasa estão incluídos no pacote de medidas relacionadas ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), ao qual o governo mineiro pretende aderir com a venda ou federalização de ativos para amortizar parte do débito de R$ 170 bilhões do estado com a União.

O que diz a PEC do referendo?

No início do século, durante o governo de Itamar Franco, a Assembleia aprovou por unanimidade a inclusão de um artigo na Constituição de Minas Gerais que obriga a realização de um referendo popular para aprovar a privatização das estatais de gás natural, energia elétrica e saneamento.

A PEC 24/2023 buscava retirar esse artigo e viabilizar a privatização de Cemig e Copasa. Após acordos entre os deputados, o texto foi alterado e manteve apenas a retirada do referendo para a Copasa.

A Copasa no Propag

A privatização da Copasa já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Propag. Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

Leia também

Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.