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Câmara aprova com placar unânime a reforma do IR e texto segue para o Senado

Proposta amplia faixa de isenção, cria novas alíquotas e traz ajustes para lucros, dividendos e Prouni

Presidente da Câmara Hugo Motta e o relator do projeto da reforma do IR, o deputado federal Arthur Lira anunciando a aprovação da isenção do IR para quem ganha até 5 mil reais

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (1º) a reforma do Imposto de Renda, relatada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). O projeto muda a tabela de cobrança, amplia a faixa de isenção e cria mecanismos para compensar eventuais perdas de arrecadação. Agora, o texto segue para análise do Senado.

Como funciona hoje e o que muda

Atualmente, quem ganha até R$ 3.036 por mês não paga Imposto de Renda, e a alíquota máxima é de 27,5%.
Com a nova proposta da Câmara:

  • Fica isento quem recebe até R$ 5 mil mensais.
  • Entre R$ 5 mil e R$ 7.350, haverá isenção parcial.
  • Rendimentos acima de R$ 50 mil terão alíquota fixa de 10%, inclusive ganhos superiores a R$ 100 mil.

Segundo cálculos do governo, a mudança custará R$ 25,8 bilhões aos cofres públicos em 2026, mas deve beneficiar cerca de 16 milhões de contribuintes.

Proposta semelhante no Senado

No Senado, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) já havia aprovado um projeto semelhante. O texto prevê:

  • Isenção total para quem recebe até R$ 5 mil por mês (R$ 60 mil por ano).
  • Redução proporcional para rendas entre R$ 5 mil e R$ 7.350: a alíquota é mais baixa para quem está mais próximo do piso e vai diminuindo gradualmente à medida que a renda aumenta.
  • Atualização do limite de deduções simplificadas, que passa de R$ 16.754,34 para R$ 17.640.

O relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), defendeu que o mecanismo de redução decrescente corrige a chamada “defasagem histórica” da tabela do Imposto de Renda e garante progressividade, sem criar “degraus” bruscos na tributação.

Agora, o plenário do Senado terá de decidir se mantém esse modelo ou se adota o texto aprovado na Câmara. Se houver divergências, os projetos precisarão ser conciliados.

Repercussão política

O texto da Câmara foi aprovado por unanimidade, com 493 votos favoráveis. Arthur Lira comemorou o resultado: “Esse projeto faz justiça tributária, corrige a tabela para os que mais precisam e garante melhor distribuição de renda.” O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), destacou o consenso: “Foi uma grande noite. A votação mostrou responsabilidade dos deputados e beneficia milhões de brasileiros.”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também celebrou a medida, chamando-a de vitória coletiva: “Uma vitória em favor da justiça tributária e do combate à desigualdade, em benefício de 15 milhões de trabalhadores e trabalhadoras. A Câmara deu um passo histórico ao aprovar projeto encaminhado pelo nosso governo para zerar o imposto de renda de quem ganha até R$ 5 mil e reduzir a cobrança de quem recebe até R$ 7.350, a partir de uma contribuição mínima dos muito ricos. Essa vitória é compartilhada pelo governo, pelos deputados e pelos movimentos sociais. Tenho certeza de que o Senado também dará amplo apoio à proposta.”

A ampliação da faixa de isenção reduz a arrecadação federal, mas a União garantiu que os Fundos de Participação dos Estados e Municípios (FPE e FPM) receberão repasses automáticos. Se não bastar, o governo federal deverá complementar os valores a cada três meses. Além disso, o relatório prevê uma sobra de R$ 12,7 bilhões até 2027, que será usada para compensar a redução da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Parte dessa arrecadação extra também será repassada a estados e municípios.

O projeto aprovado na Câmara ainda define regras específicas de isenção para lucros e dividendos destinados a:

  • governos estrangeiros com reciprocidade;
  • fundos soberanos;
  • fundos de pensão e previdência.

Outra medida é que lucros de 2025 distribuídos em 2026 não serão tributados retroativamente, o que, segundo Lira, dá segurança jurídica aos investidores.

O relator ampliou o número de exceções para calcular a renda dos contribuintes mais ricos. Pelo texto, não serão computados os seguintes rendimentos:

  • Herança
  • Rendimentos da poupança
  • Indenizações por acidente ou doenças graves
  • Aposentadorias decorrentes de doenças graves ou acidente de trabalho
  • Dividendos pagos por governos estrangeiros
  • Pagamentos de fundos soberanos
  • Entidades estrangeiras que administram previdência
  • Títulos isentos (LCI, LCA, LCD, CRI, CRAs, FIIs, Fiagros, debêntures incentivadas e fundos de investimentos de infraestrutura)

Próximos passos

O texto segue agora para o Senado. Se aprovado sem alterações, caberá ao presidente Lula sancionar a lei. Caso sejam feitas mudanças, o projeto retorna para a Câmara. Para o governo, a reforma é um passo central no debate sobre justiça fiscal: beneficia milhões de brasileiros, preserva o equilíbrio das contas públicas e garante compensações estruturadas para estados e municípios.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.