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Municípios mineiros atingidos pela tragédia em Mariana decidem não assinar acordo de repactuação

Valores previstos no acordo já assinado pelo governo federal desagradam os gestores municipais

Prefeitos querem uma compensação maior aos municípios atingidos pela tragédia em Mariana

O Consórcio Público de Defesa e Revitalização do Rio Doce (Coridoce), responsável por distribuir os repasses aos municípios atingidos pela tragédia de Mariana, ocorrida em 2015, decidiu não assinar a proposta de repactuação defendida pelo governo federal. Conforme lideranças ouvidas pela Itatiaia, os termos financeiros propostos são mais benéficos à União e ao governo dos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais do que para os municípios atingidos.

Conforme os termos propostos, o valor geral da repactuação é de R$ 178 bilhões. Deste montante, R$ 78 bilhões são destinados para indenizações às vítimas da tragédia. Grande parte deste recurso já foi pago pelas mineradoras responsáveis pela tragédia e pela Fundação Renova, mas há a previsão de novos valores para este segmento. Os outros R$ 100 bilhões seriam divididos para os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo, além de prefeituras de cerca de 50 cidades dos dois estados.

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Nessa divisão, R$ 6 bilhões seriam pagos aos municípios de forma direta para gastos livres, diluídos ao longo de 20 anos. Outros R$ 6 bilhões, também previstos aos municípios, estão vinculados à área da saúde.

Segundo fontes ouvidas pela Itatiaia, a cidade de Mariana, uma das mais atingidas e onde a tragédia começou, receberia como repasse financeiro o equivalente à arrecadação do município ao longo de um ano. Este valor é considerado baixo pelos gestores da cidade, avaliação que se assemelha à de prefeitos de vários municípios atingidos.

Uma reunião está prevista para a próxima terça-feira. Os prefeitos vão discutir um posicionamento oficial do colegiado que representa as cidades atingidas. A definição, antecipada pela Itatiaia, é de que não haverá assinatura na repactuação proposta pelo governo federal. Os gestores municipais preferem aguardar uma ação que tramita na justiça da Inglaterra e que pode render recursos financeiros maiores às cidades do que a repactuação proposta no Brasil.

Outro ponto apontado pelos prefeitos do Vale do Rio Doce é a comparação com o acordo firmado pela tragédia de Brumadinho, em 2019. Segundo eles, na repactuação após o rompimento da barragem da Vale, 11% do recurso final foi dividido entre os municípios. Já na repactuação proposta pelo governo federal para a tragédia de Mariana, apenas 6% dos recursos foram destinados às cidades atingidas.

A Itatiaia procurou a Samarco que, em nota, respondeu que até setembro de 2024, foram aportados R$ 38 bilhões em ações de reparação e compensação, por meio da Fundação Renova (em liquidação). Sendo R$ 100 bilhões “como obrigações a pagar a serem repassados nos próximos 20 anos para os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo, e respectivos municípios que aderirem ao acordo, com o objetivo de financiar as ações de políticas públicas coordenadas por esses entes” e R$ 32 bilhões como “obrigações de fazer, sob responsabilidade da Samarco, para sustentar as ações de reparação e compensação ligadas a indenizações, reassentamento e recuperação ambiental em Mariana (MG) e na Bacia Hidrográfica do Rio Doce impactada pelo rompimento”.


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Mineiro de Urucânia, na Zona da Mata. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto (2024), mesma instituição onde diplomou-se jornalista (2013). Na Itatiaia desde 2016, faz reportagens diversas, com destaque para Política e Cidades. Comanda o PodTudo, programa de debate aos domingos à noite na Itatiaia.