Desde o início do governo Lula (PT), em 2023, a relação da gestão do petista com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), foi marcada por uma série de momentos de tensão e divergências.
Só nos primeiros 26 dias de 2025, foram seis atritos públicos diretos do executivo mineiro com ministros de Lula e até mesmo com o próprio presidente.
Ausência em ato de 8 de janeiro
Lula organizou um ato simbólico em Brasília “em memória” dos dois anos dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. O Palácio do Planalto convidou os presidentes dos Três Poderes e todos os governadores para a cerimônia. Zema, no entanto, recusou o convite.
Em 2024, ele chegou a confirmar presença, mas recuou e desistiu de comparecer. A apuração da Itatiaia revelou que o governador foi “pressionado”, especialmente por membros do partido Novo, a não participar.
Discordância no Propag
No dia 14 de janeiro, o presidente Lula sancionou com vetos o Programa de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados junto à União (Propag), o que foi alvo de crítica de alguns governadores, incluindo Romeu Zema.
O mineiro avaliou que o Propag ficou “pior” que o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e chegou a declarar, em coletiva de imprensa, que Minas Gerais não iria aderir ao programa se os vetos de Lula não fossem derrubados pelo Congresso.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), usou as redes sociais para rebater as críticas do governador.
No X, antigo Twitter, Haddad afirmou que Zema “esconde a verdade”, alegando que os dois se encontraram e que o mineiro teria pedido que a União quitasse a dívida dos estados com bancos privados.
O petista também escreveu que Zema “critica privilégios”, mesmo tendo aumentado o próprio salário em 298%.
Zema respondeu dizendo que o Propag foi “mutilado” por Lula e também afirmou que o veto “impõe custos” aos mineiros, enquanto “o governo federal mantém 39 ministros, esbanja com viagens luxuosas e impõe sigilo de 100 anos no cartão do presidente”.
Em tréplica, Haddad disse que a dívida de Minas Gerais cresceu não devido aos juros abusivos, mas sim aos “calotes” dados pelo estado à União.
No meio das respostas, o vice-governador Mateus Simões (Novo) saiu em defesa de Zema e também atacou o Propag sancionado por Lula. Ele publicou uma postagem dizendo que o governo federal prefere “passar de bom samaritano”, mas que ao invés de “cortar os gastos”, prefere “jogar a conta para os estados”.
Zema vira alvo de outro ministro
Romeu Zema também foi alvo do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). Em resposta à Itatiaia, ele reforçou a queixa de Fernando Haddad dizendo que o governador tentou exigir que a União pagasse a dívidas do estado com bancos privados, inclusive, com instituições internacionais.
Lula diz que merecia ‘prêmio’ de Zema
Durante a cerimônia de assinatura da concessão da BR-381, em Brasília -- que Zema também não compareceu -- o presidente Lula disse, em discurso, que o mineiro deveria lhe dar um “troféu” por resolver a dívida dos estados.
"[Zema] deveria vir aqui me dar um prêmio. Me trazer um troféu do primeiro presidente da República que ele tem conhecimento que nunca vetou absolutamente nada de nenhum governador ou prefeito por ser de oposição”, afirmou.
Ele ainda completou dizendo que “talvez só Jesus Cristo” faria isso, se fosse presidente do Brasil.
Zema foi alvo de outro ministro
No mesmo evento, o governador também foi criticado pelo ministro do Transporte, Renan Filho (MDB).
Durante discurso, Renan lamentou a ausência de Zema na assinatura da concessão da rodovia que corta Minas Gerais. Ele afirmou que nenhum outro governo deu “tanta atenção” ao estado quando o atual. “Vi o governador cobrando investimento, no governo passado e agora, mas não o vejo aqui neste momento. Parece que a cobrança é mais política e menos pela obra. Isso apequena o gestor público”, disse.
Em réplica, o governador rebateu a fala de Renan que o foco dele é “trabalhar” e não “perder tempo com eventos burocráticos”.
Sobre a fala do presidente Lula, Zema declarou que Jesus, se fosse chefe do Executivo, iria perdoar “todas as dívidas e jamais cobraria juros abusivos”.