Pesquisa aponta que profissionais negros sofrem racismo estrutural dentro do sistema de justiça

O estudo, divulgado pelo CNJ, mostrou que pessoas negras ocupam menos de 15% dos cargos na magistratura e representam apenas 30% dos postos de servidores

O levantamento mostrou que o racismo começa desde o início da formação desses profissionais, nas faculdades de Direito

Uma pesquisa mostrou que o sistema de justiça brasileiro não apenas reproduz racismo estrutural, mas também produz e institucionaliza. O estudo, divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), destacou a sub-representação de pessoas negras em cargos no Poder Judiciário e em outros órgãos do sistema.

As conclusões foram mostradas na pesquisa Características do racismo estrutural (re)produzido no Sistema de Justiça: uma análise das discriminações raciais em tribunais estaduais, da 6.ª edição da série Justiça Pesquisa, do CNJ, apresentados na última quinta-feira (28), realizada por um grupo de pesquisadoras e pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Alguns dados

Embora a população brasileira seja majoritariamente negra, 55,5% segundo a edição do Censo do IBGE de 2022, eles ocupam menos de 15% dos cargos na magistratura e cerca de 30% dos postos de servidores, enquanto pessoas brancas ocupam 80% da magistratura e quase 70% dos servidores, segundo a pesquisa.

O levantamento indicou que há mais mulheres servidoras, 54%, do que homens, 46%. Porém, quando o recorte são de pessoas negras, os homens representam a maioria, 52% entre pardos e 53% entre pretos. O estudo mostra que mesmo em cargos onde as mulheres estão melhor representadas, pretas e pardas continuam sendo duplamente minoritárias em relação às mulheres brancas e aos homens negros.

Ainda segundo o estudo, o racismo começa na formação jurídica dessas pessoas, dentro das universidades e dos estágios. “Além das agressões perpetradas por docentes, a discriminação se manifesta na baixa quantidade de pessoas negras que acessam o ensino superior em direito e nas dificuldades que enfrentam para concluir o curso”, diz trecho do documento divulgado.

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Outro tópico apontado pelo texto, mostra que advogados e advogadas negras enfrentam problemas para serem reconhecidos como profissionais.

Concentração em cargos menores

O Diagnóstico Étnico-Racial do Poder Judiciário revelou que 83,9% dos magistrados brasileiros são pessoas brancas. A pesquisa também apontou a concentração de pessoas negras em cargos hierarquicamente mais baixos e escassa em posições de topo:

  • 41% dos estagiários se identificam como negros;
  • 29,1% dos servidores se identificam como negros;
  • 14,5% dos magistrados se identificam como negros.

Conforme o estudo, a desigualdade fica mais acentuada em recortes, como, por exemplo, na Justiça Federal, onde apenas 2,6% se identificam como negros.

O conjunto de dados e análises produzidas pela pesquisa orientam a produção de recomendações e políticas voltadas a conter os efeitos do racismo estrutural, somando-se às propostas já estabelecidas no Pacto Nacional do Judiciário pela Equidade Racional.

  • Um dos primeiros pontos é o reconhecimento do racismo institucional por parte dos operadores do sistema de justiça em todos os níveis hierárquicos;
  • O texto também recomenda a criação de estruturas independentes para a coleta e registro de informações que tratem sobre a descriminação.
  • Criação de estruturas e programas de acolhimento e acompanhamento ao longo da carreira de profissionais negros;
  • Criação e fortalecimento de Comitês Permanentes para atuar como entidade de apoio às políticas antirracistas;
  • Incorporação do letramento racial na formação jurídica e no funcionamento do sistema de justiça;
  • Inclusão de questões sobre Direito e Relações Raciais em editais e provas do Exame Nacional de Magistratura;
  • Garantir, ao menos, 30% de pessoas negras nas bancas examinadoras.

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Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia, já foi produtora de programas da grade e repórter da Central de Trânsito Itatiaia Emive.

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