Com a promessa de uma agenda econômica protecionista e focada na valorização da produção nacional, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, trará efeitos aos setores produtivos de Minas Gerais a partir de janeiro, quando retornará à Casa Branca.
Segundo a FIEMG - Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - no ano passado, o estado exportou US$ 40,23 bilhões, com os Estados Unidos como o segundo maior destino desses produtos. O minério de ferro representa 32% das exportações mineiras, seguido por café, soja, ferro-liga e açúcar.
Para o mercado norte-americano, os produtos mais exportados de Minas são ferro-gusa, café, tubos e perfis de aço, e ferro-ligas. Com a eleição de Trump, a analista de negócios internacionais da FIEMG, Verônica Winter, vê um potencial impacto, especialmente para o setor siderúrgico.
“Considerando esse panorama do comércio de Minas Gerais com os Estados Unidos e essa postura protecionista, com a promessa do Trump de aplicação de tarifas às importações, principalmente, dos produtos manufaturados, podemos considerar um potencial impacto no setor siderúrgico”.
Estados Unidos x China
Por outro lado, a analista ressalta que a China é o principal alvo do aumento tarifário para as importações norte-americanas, o que pode abrir novas oportunidades para Minas. “Essa situação pode permitir que Brasil e Minas Gerais substituam parte da fatia de mercado anteriormente ocupada pela China nos Estados Unidos, fortalecendo produtos mineiros como componentes farmacêuticos, produtos plásticos e de borracha. Existe um potencial para o Brasil triplicar a exportação de componentes farmacêuticos e dobrar a de produtos plásticos e de borracha”.
No entanto, Verônica Winter alerta que o setor siderúrgico mineiro deve observar o aumento tarifário imposto aos chineses. “Uma barreira comercial ao aço chinês pode gerar maior entrada desse produto no Brasil. Isso é um ponto de atenção para o governo, para que proteja a indústria nacional”.
Além disso, o endurecimento das tarifas para a China pode afetar o setor de mineração do estado, já que a redução nas importações norte-americanas de produtos industriais chineses diminuiria a demanda do país asiático por minério de ferro.
“Quando os EUA restringem a importação de produtos industriais chineses, a China reduz a compra de commodities do Brasil. Isso afeta principalmente a mineração, com queda nos preços. Nos últimos cinco anos, quase 70% do minério de ferro exportado por Minas foi destinado à China”, ressalta.
Dólar e Balança Comercial
A nova política econômica de Trump prevê também a valorização do dólar, impulsionada pelo aumento da taxa de juros. Verônica Winter comenta que “essa valorização pode ser positiva para as exportações, mas também poderá prejudicar as importações, o que afetaria nossa balança e relação comercial com os Estados Unidos”.
Diante desse cenário, a analista defende que a melhor estratégia para Minas Gerais é aumentar a competitividade industrial. “Mesmo sem sabermos exatamente como as promessas de campanha se traduzirão em políticas práticas, é importante que o Brasil e Minas foquem em estratégias e ações que promovam o aumento da competitividade da indústria, diversificação da pauta exportadora para os Estados Unidos e também uma diversificação dos parceiros comerciais. Atualmente Minas tem como principais parceiros a China - nosso principal parceiro - os Estados Unidos, a Argentina, a Alemanha e os Países Baixos”.