O presidente da França, Emmanuel Macron, fez um alerta a um grupo de empresários brasileiros: a União Europeia não deve assinar acordo caso o Mercosul permaneça rachado. A informação foi em entrevista exclusiva à Itatiaia pelo ex-governador e ex-prefeito da capital paulista João Doria.
O Brasil tenta ratificar, há cerca de 25 anos, um acordo firmado entre a UE e o Mercosul (formado em parceria com Uruguai, Paraguai, Argentina e Bolívia). Ocorre que questões legais, especialmente apontadas por agricultores franceses, têm travado o acerto.
João Doria está em Paris, onde participou nesta quinta (12) de uma reunião com o presidente francês, Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu (sede do governo francês).
“O presidente Macron tem uma visão crítica. Ele entende que a ausência da Argentina do grupo enfraqueceu o bloco e fracionou o Mercosul. Fica difícil para instituições como a OCDE, ou mesmo a União Europeia, negociar com uma instituição fracionada como o Mercosul. Macron recomendou que o Mercosul possa estabelecer as suas novas conexões, superar as diferenças para trabalhar unido, em prol dos países que o integram”, diz Doria, completando:
“Ele está repleto de razão. Não faz sentido uma instituição dividida e esvaziada desejar ter representação com órgãos multilaterais, ou mesmo com a União Europeia. Macron deixou um comentário: tratem de dialogar, tratem de se unir para poder valorizar e criar força ao Mercosul, mas não significa que todos devem concordar com todos. Ele também fez essa observação. Aliás, isso não existe. Concordância plena em instituições democráticas não há, mas há a maioria.”
O Mercosul tem um racha institucional por causa de visões antagonistas do presidente da Argentina, Javier Milei. Em julho, por exemplo, ele deixou de participar de reunião do bloco em La Paz (Bolívia) e viajou a Balneário Camboriú (SC) para o maior evento conservador das Américas.
“Você pode estabelecer aquilo que é prioridade para os países que compõem o Mercosul e evitar essas fissuras que determinaram, por exemplo, a decisão do presidente Milei de não comparecer às reuniões do Mercosul. Na minha visão, não foi um bom gesto. Ele pode ter discordâncias em relação ao presidente Lula, pode ter discordâncias em relação a outros presidentes no continente, e especificamente aqui no Cone Sul, mas isso não significa que a Argentina deve abandonar o Mercosul. O Brasil já teve diferenças no passado, e mesmo assim, manteve a sua posição no Mercosul.”
O encontro foi organizado pelo Lide, grupo fundado por ele, em parceria com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) e Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso).