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Cármen Lúcia sobre ataques à Justiça: ‘Não podemos e nem queremos juízes super-homens’

Em Belo Horizonte, ministra do STF falou sobre momento vivido por magistrados na mira de ataques e campanhas de difamação

A ministra Cármen Lúcia palestrou no encerramento do evento sobre segurança institucional em Belo Horizonte

Em Belo Horizonte, nesta sexta-feira (17), a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), falou sobre sua percepção do momento político brasileiro e da relação entre a opinião pública e o sistema Judiciário. A magistrada fechou a programação do 4° Encontro Nacional de Segurança Institucional, sediado na Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), no Centro da capital mineira.

Na palestra, Cármen Lúcia manifestou preocupação com o emprego de ferramentas de inteligência artificial para a fabricação de notícias falsas contra juízes e desembargadores. Ela ainda afirmou que a perseguição e ameaças contra magistrados afetam a atuação da Justiça e o caminho até a magistratura.

“Nós não podemos nem queremos ter juízes super-homens. Este não é um tempo de valentia, este é tempo de coragem para a gente tomar as decisões que sejam necessárias sem submissão a essas injunções odientas, violentas e ameaçadoras que podem mesmo conduzir as situações de medo. Com medo não se vive, no máximo se sobrevive de maneira precária e a nossa função de juízes impõe a cada um de nós a coragem de continuar exercendo com o que nos é apresentado como dever. Dever de ofício, dever da função, dever com o Brasil”, afirmou durante a palestra.

Cármen Lúcia afirmou ainda que tem recebido relatos de juízes e desembargadores receosos de ocupar funções na Justiça Eleitoral e em varas que julgam casos de violência doméstica, casos antes quase restritos à área criminal.

Única mulher entre os 11 ministros do STF, Cármen Lúcia dedicou parte de sua palestra no evento de segurança institucional para falar sobre a violência de gênero no âmbito da magistratura. Ela destacou como os ataques a juízas impactam, inclusive, as postulantes à carreira no poder Judiciário.

“O chamado discurso de ódio contra o homem, inclusive contra o juiz, é um. O discurso, que eu chamo de ‘ódia’, contra a contra a mulher, é outro. Ele é sempre pessoal, misógino e sexista. É tão pessoal que atinge a família. Aí o parceiro, o filho ou a mãe dessa mulher fala assim: ‘por que você ainda está nessa carreira?’. Eu falo isso de cátedra, porque dentro da minha casa tem gente que fala: ‘não sei o que você está fazendo lá. Não está vendo que isso atinge a todos na família?’. Isso é uma forma de incutir na pessoa uma impossibilidade de continuar. No caso de nós mulheres, sabemos o porquê. Quanto menos mulheres comparecerem para se inscreverem como magistradas, como desembargadoras, como ministras que sejam do poder Judiciário, do Legislativo, ou do Executivo, tanto melhor, porque dizem que são elas é que não querem”, analisou a ministra.

Mineira, Cármen Lúcia se formou e construiu sua carreira a partir de Belo Horizonte. Sua passagem pela capital mineira nesta sexta-feira se dá em um momento importante para o Supremo. Com a aposentadoria precoce de Luís Roberto Barroso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve agora indicar um nome para ocupar o espaço vago na Corte. O senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o advogado-geral da União, Jorge Messias, são os nomes mais cotados para o cargo.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.