A gravação de uma reunião com a alta cúpula do governo Jair Bolsonaro (PL) encontrada pela Polícia Federal (PF) no computador de Mauro Cid indica que o à época presidente pediu aos aliados para atacar a Justiça Eleitoral e propagar notícias mentirosas sobre a segurança das urnas eletrônicas, conforme consta em trechos do inquérito revelados nesta quinta-feira (8). Ainda nas primeiras horas do dia, a PF começou a cumprir mandados de prisão e busca e apreensão contra Bolsonaro e aliados, expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na reunião, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, declarou ser necessário agir antes das eleições para garantir a vitória de Bolsonaro. “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, declarou.
“Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”, completou. A declaração consta em transcrição feita pela Polícia Federal a partir da gravação encontrada no computador de Mauro Cid, à época ajudante de ordens do presidente.
As falas de Heleno na reunião dão fôlego ainda a outra investigação da PF — a respeito da atuação ilegal de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em um estratagema que beneficiaria Bolsonaro, aliados e familiares. Na ocasião, o ministro do GSI declarou abertamente que conversou com o diretor-ajunto da Abin, à época Vitor Carneiro, para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais.
“Nesse momento, o então presidente Jair Bolsonaro, possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da Abin, interrompe a fala do ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente ‘conversem em particular’ sobre o que a ABIN estaria fazendo”, detalha a PF no inquérito.
A reunião em questão ocorreu em 5 de julho de 2022 e reuniu a alta cúpula do Governo Federal, além de aliados íntimos de Jair Bolsonaro:
- Anderson Torres, que ocupava o cargo de ministro da Justiça na época;
- General Augusto Heleno, citado anteriormente, e que era chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, então ministro da Defesa;
- Mário Fernandes, à época chefe-substituto da Secretaria-Geral da presidência da República;
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e futuro candidato à vice-presidência na chapa com Bolsonaro;
Aliados próximos de Bolsonaro são investigados por tentativa de golpe de Estado
A operação da Polícia Federal nesta quinta-feira (8) mira aliados próximos de Jair Bolsonaro, reunidos em uma organização criminosa — segundo classifica a própria investigação — que teria articulado um golpe de Estado para evitar que o poder deixasse as mãos do então presidente. Entre os alvos da operação estão Valdemar da Costa Neto, que é presidente do PL, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, general Augusto Heleno, à época ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e Anderson Torres, que chefiou o Ministério da Justiça. A ofensiva da PF também mira:
- Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Marcelo Câmara;
- Ex-assessor de assuntos internacionais de Bolsonaro, Filipe Martins;
- Candidato à vice-presidência na chapa de Bolsonaro, general Walter Braga Netto;
- Ex-comandante-geral da Marinha, Almir Garnier Santos;
- Ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, general Stevan Teófilo Gaspar de Oliveira;
- Ex-assessor de Bolsonaro, Tércio Arnaud Thomaz;
Trinta e três mandados de busca e apreensão são cumpridos pela Polícia Federal, além de quatro mandados de prisão e 48 medidas cautelares. Todas as ações estão autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou, inclusive, o recolhimento do passaporte de Bolsonaro.
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