Em meio à destruição causada pelos atos antidemocráticos, o
“Achamos que houve falta de segurança. Queria dizer para vocês que todas as pessoas que fizeram isso serão encontradas e punidas. Eles vão perceber que a democracia garante o direito de liberdade, de livre comunicação e expressão, mas vão exigir que as pessoas respeitem as instituições criadas para fortalecer a democracia”, disse o presidente. No momento da manifestação, Lula estava em Araraquara (SP) acompanhando os trabalhos de recuperação da cidade atingida pelo excesso de chuva.
A intervenção foi comandada pelo secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, principal auxiliar do titular da pasta, Flávio Dino. E foi justamente depois de uma conversa com Dino e com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes (que estava em Paris e foi acionado por telefone), que Lula optou pela medida por entender que uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) poderia resultar em um golpe de Estado. As GLOs são intervenções feitas por militares. Nesses casos, as Forças Armadas devem restabelecer a ordem em determinados lugares.
Às 21h, Lula já estava de volta a Brasília. Nesse momento, os manifestantes já haviam sido presos ou escoltados para longe da Praça dos Três Poderes. O primeiro destino do presidente foi o Palácio do Planalto, onde ele despacha diariamente. Por lá, ele encontrou móveis quebrados, vidros destruídos e obras de arte danificadas.
Depois de ver a gravidade do vandalismo, Lula foi ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi recebido pela então presidente da Corte, ministra Rosa Weber, que estava acompanhada dos ministros Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso. Naquele momento, a chefe do Judiciário nacional também já havia se manifestado e classificado os atos como “criminosos”.
O líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) e
os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não estavam em Brasília no momento, mas também se manifestaram.
Pacheco disse repudiar os atos antidemocráticos e pediu que os manifestantes sofram “o rigor da lei com urgência”. Já Lira disse que o Congresso Nacional “nunca dará espaço para a baderna, a destruição e o vandalismo”.
Madrugada
Durante a madrugada do dia seguinte aos atos antidemocráticos já foram tomadas as primeiras medidas práticas pelo Judiciário. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, deu 24 horas para a polícia desocupar os acampamentos instalados em frente aos quartéis do Exército em todo o país. Por falta de repressão aos manifestantes, ele também afastou do cargo o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Moraes também determinou a apreensão e bloqueio de ônibus identificados pela Polícia Federal que transportaram os manifestantes para o DF; o envio de registros pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) de veículos que ingressaram no DF entre 5 e 8 de janeiro; a obtenção, pela PF, de todas as imagens das câmeras de segurança que pudessem ajudar no reconhecimento dos vândalos; a coleta de lista de hóspedes que chegaram a hotéis de Brasília a partir de 5 de janeiro; além do bloqueio de canais bolsonaristas no Facebook, Instagram, TikTok e Twitter.
Moraes faz vistoria no prédio do STF, destruído por bolsonaristas no dia 8 de janeiro
9 de janeiro
Já durante a manhã do dia seguinte aos atos, Lula se reuniu com os representantes dos demais Poderes no Palácio do Planalto. O presidente recebeu Rosa Weber, Barroso, Toffoli, Lira e o vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). Havia um consenso entre os chefes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Eles classificaram os atos como “terroristas, de vandalismo, criminosos e golpistas”. Em nota, eles reiteraram que o Brasil “precisa de normalidade, respeito e trabalho para o progresso e justiça social”.
“Estamos unidos para que as providências institucionais sejam tomadas, nos termos das leis brasileiras. Conclamamos a sociedade a manter a serenidade, em defesa da paz e da democracia em nossa pátria”, disseram, em nota.
Ao longo do dia, começaram as primeiras movimentações para a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de inquérito (CPMI) para apurar os atos golpistas. As discussões sobre um colegiado com essa missão seguiu até abril, quando Rodrigo Pacheco determinou a abertura de uma CPMI, com a participação de senadores e deputados federais. Após cinco meses de discussões, o colegiado aprovou relatório final, que pediu o indiciamento de 61 pessoas por crimes como associação criminosa, violência política, abolição do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado. Entre elas, o ex-presidente Jair Bolsonaro e ex-ministros do seu governo, como Walter Braga Neto, da Defesa; Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e Anderson Torres, da Justiça.
Caminhada
Ao fim do dia 9 de janeiro, depois de uma reunião no Palácio do Planalto, houve o gesto mais simbólico das reações. Lula e Rosa Weber comandaram uma caminhada pela Praça dos Três Poderes, do Planalto até o Supremo Tribunal Federal passando pelo Congresso Nacional. Eles estavam acompanhados do vice-presidente Geraldo Alckmin, dos ministros do STF Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski (hoje aposentado) e de governadores de estados (foto em destaque).