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Ameaças de ‘estupro corretivo’ chegam a sete parlamentares em 9 dias

A deputada mineira Lohanna França (PV) recebeu e-mail com mensagens ameaçadoras nesta semana

Deputada Lohanna França registrou boletim de ocorrência após ter sido ameaçada de morte e ‘estupro corretivo’

Em nove dias, sete mulheres que ocupam cargos políticos foram ameaçadas de “estupro corretivo” em diferentes pontos do país. Minas Gerais é o estado com mais registros deste tipo - quatro no total. A parlamentar mais recente a ser ameaçada e registrar denúncia na Polícia Civil é a deputada estadual mineira Lohanna França (PV).

Segundo especialistas, estupro corretivo é uma pratica criminosa utilizada por agressores que desejam controlar o comportamental sexual ou social da vítima.

No caso da deputada Lohanna, além da ameaça de abuso sexual, o agressor disse que daria um tiro na cabeça da parlamentar.

Como a ameaça foi enviada por meio de um e-mail, a parlamentar mineira procurou nesta quinta-feira (24) a Delegacia de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de Minas Gerais para prestar queixa. Questionada pela Itatiaia, a polícia disse que está investigando, mas ressaltou que o caso ainda não virou um inquérito policial.

Em uma rede social, a deputada publicou um vídeo sobre o teor da ameaça. No e-mail, o autor dos ataques diz conhecer endereços e a rotina da deputada, da família e de sua equipe parlamentar.

Vou te dizer o que farei quando estiver em BH. Primeiro, que já tenho seu endereço e de seus parentes. Vou chegar de fininho na sua residência e entrar escondido. Você nem saberá que estou lá até eu pular no seu pescoço e te colocar algemas. Te manterei viva até invadir seu gabinete em Belo Horizonte. Eu vou te matar e toda sua equipe de funcionários a sangue frio

Segundo a equipe da deputada, esta é a quarta ameaça que ela recebe em menos de um ano.

Ameaças de “estupro corretivo” também foram disparadas na semana passada para tentar intimidar a também deputada estadual por Minas Gerais, Bella Gonçalves (Psol). Iza Lourença (Psol) e Cida Falabella (Psol), vereadoras de Belo Horizonte, também foram alvo de mensagens ameaçadoras. Estes três casos já viraram inquérito e estão sendo investigados pela polícia mineira.

A onda de ameaças não se limita a Minas Gerais. Mensagens ameaçadoras e com teor semelhante foram enviadas para a deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RS), e a deputada estadual de Pernambuco, Rosa Amorim, do PT. Vereadora no Rio de Janeiro, Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, também foi alvo de ameaças.

Todas as parlamentares ameaçadas são de partidos de esquerda e defensoras de pautas consideradas progressistas. Uma característica comum entre elas é a defesa do empoderamento feminino e que mais mulheres ocupem cargos de liderança na política e na sociedade, além de combaterem o machismo estrutural.

A deputada Lohanna França diz que não vai se intimidar e pede que as denúncias sejam apuradas com seriedade.

“A gente sabe que é uma tentativa de calar as nossas vozes porque nosso trabalho está aqui para colocar as mulheres no espaço de poder, as minorias, e fazer com que a gente faça as discussões tão importantes para Minas Gerais e para o Brasil, que esse país se recusou a fazer por muitos anos. Qualquer tentativa de me intimidar vai ser um desperdício de tempo, de energia e irá para a lata do lixo ou, quem sabe, para um camburão da polícia”, afirma.

Estupro corretivo

Como ameaças deste tipo vem crescendo com o tempo, principalmente no ambiente virtual, a Justiça já prevê punição para este tipo de caso, como explica a advogada criminalista, Camila Felix.

“O estupro corretivo é da mesma modalidade do estupro convencional. A diferença é que ele consiste em um aumento de pena. Ele é praticado por duas ou mais pessoas e ele tem a função, além da grave ameaça, da violência, conjunção carnal ou ato libidinoso, ele visa modificar a conduta da vítima - que na cabeça do agressor é socialmente errada com suas ações. Ou modificar o desejo sexual da vítima”, explica.

Desde 2018, há uma punição específica para este tipo de crime prevista na lei 13.718. Segundo a legislação, a pena para o crime de estupro vai de 6 a 10 anos de prisão. Em caso de estupro corretivo, será aplicada causa de aumento de pena de 1/3 a 2/3. A pena máxima pode superar os 16 anos de prisão.

Em nota, o Presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Tadeu Martins Leite (MDB) afirmou que todas as forças de segurança do Estado e do próprio legislativo mineiro estão investigando o caso. O presidente prestou solidariedade à deputada e ressaltou “Ameaças praticadas por criminosos covardes jamais intimidarão o Parlamento mineiro”.

Repórter de política na Rádio Itatiaia. Começou no rádio comunitário aos 14 anos. Graduou-se em jornalismo pela PUC Minas. No rádio, teve passagens pela Alvorada FM, BandNews FM e CBN, no Grupo Globo. No Grupo Bandeirantes, ocupou vários cargos até chegar às funções de âncora e coordenador de redação na BandNews FM BH. Na televisão, participava diariamente da TV Band Minas e do BandNews TV. Vencedor de 8 prêmios de jornalismo. Já foi eleito pelo Portal dos Jornalistas um dos 50 profissionais mais premiados do Brasil.