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Comando do Exército sabia que Pazuello participaria de ato político com Bolsonaro

Sigilo de 100 anos ao processo que investigou conduta do general da ativa foi derrubado por ordem da CGU

Eduardo Pazuello, que estava na ativa, participou de ato político ao lado de Bolsonaro em 2021

O Comando do Exército Brasileiro foi avisado pelo ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, de que iria a uma manifestação política convocada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), em janeiro de 2021.

A informação foi confirmada pelo próprio Pazuello, à Justiça Militar, no âmbito de um inquérito que investigou o então general da ativa no ato público. O Decreto 4.346, de 2002, proíbe que militares da ativa manifestem-se, publicamente, em assuntos de natureza político-partidária.

Ao Tribunal de Justiça Militar, Pazuello disse que “informou ao comandante do Exército, por telefone, no sábado, que iria ao passeio de moto no domingo a convite do presidente”. Ainda de acordo com o processo, o general Paulo Sérgio Nogueira confirmou a informação do ex-ministro da Saúde e disse não ter visto problema na participação dele no ato.

“Insta salientar, inicialmente, que o oficial-general em tela efetivamente comunicou a este Comandante que se deslocaria à cidade do Rio de Janeiro, a fim de participar do passeio motociclístico, a convite do senhor Presidente da República, organizado e patrocinado por associações e clubes de motociclistas daquela capital”, afirmou Nogueira no processo.

No palanque com Pazuello

Na ocasião, Bolsonaro compareceu a uma motociata no Rio de Janeiro e fez um discurso a uma multidão que o acompanhava. Em seguida, passou o microfone para Pazuello.

“Não ia perder esse passeio de moto de jeito nenhum. Estamos juntos. Parabéns a vocês que estão aí prestigiando o PR [Presidente da República]. O PR é gente de bem”, disse do alto de um trio elétrico.

Mesmo tendo participado de um ato político, Pazuello não foi punido pelo Exército, que impôs sigilo de 100 anos ao processo.

Sigilo de 100 anos

A revelação sobre o processo de Pazuello foi determinado pela Corregedoria-Geral da União (CGU), que analisou os pedidos de acesso à informação a milhares de documentos colocados sob sigilo durante o governo de Jair Bolsonaro.

Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.