Ao defender a autonomia do Banco Central (BC), o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, disse que a credibilidade na condução da política monetária é a melhor forma de ajudar o governo.
“Estudos mostram que a autonomia gera menor volatilidade e nível de inflação. A autonomia é um ganho institucional grande, que espero que não seja revertido”, afirmou o presidente do BC em entrevista ao programa Roda Viva, na TV Cultura.
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Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e lideranças petistas fizeram várias críticas às decisões do Banco Central e às políticas de juros do Comitê de Política Monetária (Copom).
Campos Neto disse que não sabe dizer o que o Congresso vai fazer sobre a reversão ou não da autonomia do BC, mas ao defendê-la, frisou que o Brasil é um dos poucos países do G-20 onde o desemprego está abaixo do nível de antes da pandemia.
O presidente do BC afirmou ainda que a prioridade de sua gestão, neste momento, está no quadro de funcionários, “há muito tempo sem reajuste”. “Houve greve forte em 2022 e é importante fazer algum tipo de recomposição”, cobrou.
Dólar
Campos Neto também destacou na em entrevista que o Banco Central só faz intervenções no mercado de câmbio quando há ruptura. “A gente só faz intervenção no câmbio quando a gente entende que tem alguma ruptura no mercado, algum problema de liquidez. O câmbio é flutuante e o fato do câmbio flutuar é importante porque essa função de absorção que ele exerce é muito importante como precificação”, afirmou.
Ele ressaltou que uma intervenção artificial na curva de juros pode causar consequências em outros preços de mercado, como no próprio câmbio.
Crise na Americanas
Na entrevista, o presidente do BC disse, ainda, que a autarquia está monitorando o efeito da crise da Americanas sobre o crédito na ponta. No entanto, afirmou não ver no caso um risco estrutural, apesar dos “soluços” na disponibilidade de crédito.
“Isso afeta de forma estrutural o crédito para frente? Estive hoje (ontem, segunda-feira) reunido com CEOs de bancos e eles dizem que não afeta nem a distribuição de produtos nem a forma como veem o crédito”, declarou. Campos Neto lembrou que os bancos já fizeram “provisão grande” nos balanços contra o risco de calote da Americanas.