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Saiba por que Léo Burguês renunciou ao cargo de vereador de BH

Vereador desde 2001, Burguês foi indiciado pela Polícia Civil e deixou o cargo antes que pedido de cassação fosse votado

Léo Burguês renunciou ao mandato nesta quarta-feira

Correndo o risco de ter o mandato cassado na Câmara Municipal de Belo Horizonte e, dessa forma, perder os direitos políticos por oito anos, o vereador Léo Burguês (União Brasil) renunciou ao cargo nesta quarta-feira (8). Há dois dias, ele disse que não abriria mão do mandato e que iria se defender das acusações de peculato, corrupção passiva e corrupção ativa durante as investigações.

Na sessão plenária de hoje, a Mesa Diretora leu o pedido de cassação por quebra de decoro parlamentar, assinado pelo advogado Mariel Marra, mas os parlamentares não chegaram a votar sobre a abertura do procedimento. Antes disso, Léo Burguês anunciou que renunciaria ao cargo e protocolou o pedido de renúncia.

Após a leitura do pedido de cassação, o vereador exibiu um vídeo em que mostra uma gravação entre o suplente de vereador Carlos Henrique Dias e o presidente da Câmara, Gabriel Azevedo (sem partido).

Dias, queria protocolar um pedido de cassação do mandato do vereador Ciro Pereira por práticas de “rachadinha” e emprego de funcionários-fantasma, mas teria sido demovido da ideia pelo presidente da Casa, que alegou que estava envolvido na abertura de um processo contra Burguês. O processo até chegou a dar entrada na Câmara de Belo Horizonte, mas foi recusado no mesmo dia pela Procuradoria da Casa.

“Como nós vimos naquela peça, quem deveria agir de maneira imparcial nesta Casa, trata esse processo com parcialidade. Aproveita para fazer promoção pessoal em cima do nome de outro vereador. Como estamos em um processo político, gostaria de renunciar ao meu mandato. Parabéns, siga sua vida”, afirmou o vereador dirigindo-se a Gabriel Azevedo.

A sessão foi suspensa pelo presidente da Câmara para que o parlamentar oficializasse sua renúncia.

“Peço atenção à sociedade, aos vereadores e à imprensa. Foi protocolizada a renúncia ao mandato pelo vereador Léo, razão pela qual fica prejudicada a apreciação da denúncia. BH portanto passe a saber: o vereador Léo Burguês não é mais vereador nesta cidade”, afirmou Gabriel ao retomar a sessão.

Da negativa à renúncia

Na última segunda-feira (6), a Câmara Municipal de Belo Horizonte recebeu, oficialmente, o pedido de cassação de Burguês. O documento foi lido em plenário e o presidente, Gabriel Azevedo abriu prazo de dois dias para que o processo fosse votado pelos demais parlamentares.

Na ocasião, Burguês negou que renunciaria ao cargo e procurou diferenciar o seu caso de outros vereadores que acabaram renunciando, foram presos ou cassados.

“Eu não tenho nenhuma fita com nenhuma prova contra mim, como tinha o vereador Rogério Alkimim. Eu não sou o vereador Cláudio Duarte, que foi preso, seu chefe de gabinete é réu confesso e teve nove assessores que falaram da prática de rachadinha, disse. “Eu também não sou Wellington Magalhães, que teve pedido de prisão, ficou foragido da polícia, foi preso, usou tornozeleira, foi denunciado, julgado e condenado. Eu sequer fui denunciado”, relativizou.

Na mesma sessão, em que se disse inocente, Léo Burguês chegou a pedir aos demais vereadores que votassem pela abertura do processo de cassação, para que ele pudesse ter a oportunidade de se defender das acusações.

"É com profunda tristeza que vejo o processo de abertura da cassação do meu mandato, mas é com muita tranquilidade e serenidade que vejo a oportunidade de poder me defender das injustas acusações que vem sendo feitas à minha pessoa. Hoje, há uma peça da autoridade policial que pede indiciamento de minha pessoa e outras. Sou inocente de todas as acusações”, afirmou.

O que pesava contra Léo Burguês

O pedido de cassação do mandato do vereador Léo Burguês (União Brasil) foi baseado em um inquérito da Polícia Civil de Minas Gerais que indiciou o parlamentar por uma série de crimes, dentre eles o esquema de “rachadinha” em seu gabinete. No esquema, funcionários do parlamentar devolvem parte dos salários para o próprio chefe.

Em um trecho da denúncia, que tem 241 páginas, a Polícia Civil afirma que funcionários de Burguês depositavam parte de seus salários em uma conta do vereador em um site de apostas online.

“Ou seja, gastos de LEO BURGUÊS com jogos de azar eram custeados (...) através do repasse de valores oriundo dos salários dela, e, em última análise, do dinheiro público”, diz trecho do documento.

Ainda pesou contra o vereador o fato de que ele deixou de votar em projetos na última sexta-feira (3) para participar de um torneio de pôquer em um hotel em Teresópolis, no Rio de Janeiro, a 404 km de distância da capital mineira.

A representação do advogado Mariel Marra traz trechos do inquérito policial com várias irregularidades que teriam sido praticadas pelo vereador.

“Burguês foi indiciado por suspeita de crimes de peculato, corrupção passiva, corrupção ativa, advocacia administrativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. De acordo com o relatório final, havia prática de devolução de parte dos salários recebidos pelos servidores aos vereador e a existência de funcionários fantasmas”, diz o advogado.

Lucas Ragazzi é jornalista investigativo com foco em política. É colunista da Rádio Itatiaia. Integrou o Núcleo de Jornalismo Investigativo da TV Globo e tem passagem pelo jornal O Tempo, onde cobriu o Congresso Nacional e comandou a coluna Minas na Esplanada, direto de Brasília. É autor do livro-reportagem “Brumadinho: a engenharia de um crime”.
Editor de Política. Formado em Comunicação Social pela PUC Minas e em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já escreveu para os jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.
Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.