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Vereadora do PT que denunciou suposto gesto nazista é cassada na Câmara de São Miguel do Oeste

Maria Tereza Capra foi cassada por 10 votos a 1 por quebra de decoro parlamentar

Vereadora do PT foi cassada na Câmara Municipal de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina

A Câmara Municipal de São Miguel do Oeste, município de Santa Catarina, cassou na madrugada deste sábado (4) o mandato da vereadora Maria Tereza Capra (PT) por quebra de decoro parlamentar.

Por 10 votos a 1, os vereadores consideraram que ela “propagou notícia falsa” ao denunciar que apoiadores do ex-presidente Bolsonaro estavam fazendo saudação nazista em evento após o segundo turno das eleições.

A defesa da vereadora Maria Tereza Capra informou que pretende recorrer da decisão.

A sessão durou mais de nove horas e acabou depois de 3 horas da madrugada deste sábado. A cassação da vereadora petista já havia sido aprovada pelo Conselho de Ética da Câmara e foi aprovada em plenário.

Votaram favorável à cassação os vereadores Carlos Agostini (MDB), Elói Bortolotti (PSD), Gilmar Baldissera (PP), Moacir Fiorini (MDB), Nélvio Paludo (PSD), Paulo Drumm (PSD), Ravier Centenaro (PSD), Valnir Scharnoski (PL), Vilmar Bonora (PSD) e Vanirto Conrad (PDT). Somente Maria Tereza Capra votou contra, e Cris Zanatta (PSDB) não participou da sessão. A sessão foi presidida por Vagner Passos (sem partido), que votaria somente em caso de empate.

A Comissão de Inquérito foi criada para apurar denúncias recebidas em novembro de 2022 contra a vereadora Maria Tereza Capra.

A Comissão apurou denúncias que citavam, em resumo, vídeo publicado pela vereadora Maria Tereza Capra e a acusavam de ter utilizado sua rede social Instagram para “propagar notícias falsas e atribuir aos cidadãos de Santa Catarina e ao Município de São Miguel do Oeste o crime de fazer saudação nazista e ser berço de célula neonazista”.

Após a decisão da Câmara de São Miguel do Oeste, várias lideranças petistas usaram as redes sociais para criticar a cassação da parlamentar. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, considerou a medida uma perseguição política.

“Nossa companheira Maria Tereza Capra, vereadora de São Miguel do Oeste (SC), sofre perseguição política e foi cassada por questionar saudação nazista feita por bolsonaristas. Ameaçada, ela teve que deixar a cidade. PT vai recorrer contra esse absurdo. Todo o nosso apoio, Maria”, afirmou Gleisi.

Entenda o caso

O suposta saudação nazista que foi denunciada pela vereadora petista acontreceu no dia 2 de novembro, dias após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) perder a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Milhares de manifestantes se reuniram na porta do quartel do Exército do município para um ato de protesto contra a vitória de Lula. Em gravações que repercutiram nas redes sociais, os manifestantes aparecem com os braços estendidos em direção à bandeira do Brasil, durante a execução do hino nacional.

A vereadora fez uma postagem criticando a manifestação e acusando os participantes de fazer apologia ao nazismo. “Além de tudo esses manifestantes ainda fizeram uma saudação nazista. Erguer a mão naquela posição, isso é repetir algum dos momentos mais dramáticos, eu diria o pior drama que a população mundial viveu”, escreveu Maria Tereza Capra.

Investigação do MP

O caso foi investigado pelo Ministério Público de Santa Catarina, que entendeu não se tratar de um episódio de apologia ao nazismo. O órgão afirmou que as pessoas estenderam as mãos após pedido do locutor do evento, que pediu para os manifestantes “emanarem energias positivas” para o país. O MP considerou que não houve evidência de prática criminosa e o caso foi arquivado.

Após a grande repercussão de sua publicação nas redes sociais e na cidade catarinense, Maria Tereza Capra passou a ser alvo de ataques e ameaças e precisou deixar São Miguel do Oeste, além de passar a receber escolta da Polícia Federal.

Editor de Política. Formado em Comunicação Social pela PUC Minas e em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já escreveu para os jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.