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Empresas de energia elétrica listadas na bolsa acumulam alta de 40% em 2025

Setor vive ‘boom’ no mercado financeiro após um 2024 marcado por incertezas e alivio nos títulos de longo prazo; Eletrobras lidera altas

Principal empresa do setor, Eletrobras valorizou 60% entre janeiro e setembro

O Índice de Energia Elétrica (IEE) da bolsa de valores brasileira, a B3, acumulou uma valorização de 40,27% entre janeiro e setembro deste ano. O indicador mede o desempenho das principais empresas listadas no mercado elétrico, atuantes em geração, distribuição e transmissão de energia, servindo como um termômetro para os investidores avaliarem o momento do setor.

Após um 2024 marcado por incertezas que causaram uma queda de 16,8% no indicador, o setor virou o jogo neste ano e apresenta resultados consideráveis frente a um cenário desafiador da economia, com a expansão fiscal pressionando as taxas de juros. De janeiro a setembro, o IEE saiu de 76.323,06 pontos para 108.648,98, de acordo com dados da própria B3.

Segundo explica o analista do setor elétrico e saneamento da Genial Investimentos, Vitor Sousa, os ativos vinham de uma base depreciada em termos de avaliação. Nesse caso, com as ações muito baratas, o que ele classificou como uma “fagulhas” fizeram com que as ações respondessem positivamente.

O primeiro ponto citado pelo especialista foi um alívio nos juros de longo prazo das notas do tesouro nacional. Como as empresas de energia são de capital intensivo, necessitando de bilhões em investimentos para seus projetos, juros altos fazem com que essas empresas tenham dificuldade para encontrar financiamento.

“Aconteceu o que a gente chama de fechamento de curva. Sempre que o rendimento desses títulos aumentam, os ativos reais sofrem. O que aconteceu foi exatamente o oposto, os juros desses títulos mais longos começaram a cair um pouco, então as empresas de infraestrutura se recuperaram um pouco”, explicou Sousa à Itatiaia.

Outro ponto fundamental para analisar o momento do setor é o preço da energia definido pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Entre 2023 e 2024, o preço de liquidação médio do megawatt por hora (MWh) estava em torno de R$ 120. Atualmente, esse valor está chegando a R$ 180 o MWh

O efeito Eletrobras

Em parte, o boom do IEE se deve pela alta valorização da Eletrobras (ELET3), que viu suas ações subirem em quase 60% desde o início do ano. A maior empresa do setor elétrico foi privatizada em junho de 2022, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal logo nos primeiros meses de governo para questionar o processo.

O governo, que possui cerca de 40% de participação na Eletrobras, protestava que o modelo de desestatização limitou o seu poder de voto nas assembleias de acionistas em até 10%. O imbróglio foi resolvido com um acordo firmado em março deste ano, onde abriu mão de aumentar esse percentual em troca do aumento do número de assentos no Conselho de Administração da empresa de sete para dez, sendo que essas três cadeiras são da União.

“A Eletrobras saiu com um acordo da ação direta de inconstitucionalidade, e começou a se recuperar muito bem. Se você olhar o gráfico, vai ver que no horizonte de um ano e meio, ela chegou a ação chegou a valer R$ 35, e agora está caminhando para os R$ 60. Não é comum uma empresa desse tamanho dobrar de valor em um ano, mas a medida que esses eventos começaram a acontecer, vários nós foram desfeitos”, destacou o analista da Genial.

A Eletrobras tem a maior participação do Índice de Energia Elétrica, com 7,8% do total, enquanto as outras empresas possuem cerca de 6%. No intervalo de nove meses, a empresa saiu de um valor de mercado de R$ 78,4 bilhões para R$ 126,1 bilhões. (Coelce)

Outras empresas seguem essa tendência de forte valorização. A Companhia Paranaense de Energia (Copel), teve um avanço de 43,41%. Suas ações, que eram negociadas a R$ 9,09 no início de janeiro, estão cotadas a R$ 13,05. Os papéis da CPFL Energia, de São Paulo, sairam de R$ 31,42 para R$ 39,48, uma valorização de 24,98%.

O que esperar do futuro?

Enquanto o setor de energia elétrica global discute o momento da transição energética e a redução das emissões de carbono, Vitor Sousa ressalta que as empresas brasileiras já possuem um portfólio limpo. “A transição energética já aconteceu. Essas empresas já estão no século XXI. Quando a gente pensa nas empresas puramente elétricas, elas já são limpas”, disse.

O especialista explica que os desafios estão em outras frentes regulatórias, como a questão dos curtailment, que é o corte na geração quando há um excesso de energia renovável que o Sistema Interligado Nacional (SIN) não consegue despachar. “O governo precisa mudar um pouco a regulação para frear a entrada de fontes intermitentes, precisa de ter uma agenda de mudança regulatória”, ressaltou.

No início de setembro, Vitor Sousa escreveu um relatório temático para a Genial com o título “Da expansão renovável ao desafio da estabilidade: quem ganha com o novo modelo elétrico?”. Nele, o analista ressalta os problemas sistêmicos da matriz energética e a necessidade de expansão da infraestrutura de distribuição.

“A solução está relacionada a investir mais em transmissão para melhorar o escoamento dessas fontes, instaladas principalmente no Nordeste. Você também tem toda uma questão regulatória que envolve leilões de potência por parte das geradoras, contratação de energia para o atendimento da demanda na ponta. Enfim, não é uma resposta fácil”, completou

Empresas do IEE B3

Código de negociaçãoEmpresaCotação em 17/10
ALUP11AluparR$ 31,48 (22,71%)
AURE3AurenR$ 10,93 (24,49%)
CMIG4CemigR$ 10,83 (-2,43%)
COCE5CoelceR$ 29,50 (18,95%)
CPLE6CopelR$ 13,05 (43,41%)
CPFE3CPFL EnergiaR$ 39,48 (24,98%)
ELET3EletrobrasR$ 54,63 (59,97%)
ENGI11EnergisaR$ 50,24 (38,78%)
ENEV3EnevaR$ 16,70 (65,35%)
EGIE3Engie BrasilR$ 40,06 (12,85%)
EQTL3EquatorialR$ 36,33 (32,65%)
ISAE4Isa EnergiaR$ 24,23 (4,39%)
NEOE3NeoenergiaR$ 29,20 (54,42%)
SRNA3SerenaR$ 12,47 (126,73%)
TAEE11TaesaR$ 36,67 (11,53%)
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Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.