Peter Mandelson, embaixador britânico nos Estados Unidos, foi retirado do cargo devido aos seus vínculos com Jeffrey Epstein, condenado por crimes sexuais em 2019. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (11) pelo Foreign Office, poucos dias antes da visita de Donald Trump ao Reino Unido.
O Ministério das Relações Exteriores britânico afirmou que a demissão é consequência de e-mails entre o veterano diplomata do Partido Trabalhista, de 71 anos, e o financista americano.
A decisão do governo britânico foi anunciada poucas horas após o jornal The Sun e a agência Bloomberg informarem que Mandelson enviou mensagens de apoio a Epstein quando o empresário estava sendo investigado nos Estados Unidos por crimes sexuais em 2008.
“Penso muito em você e me sinto impotente e indignado com o que aconteceu”, teria escrito Mandelson a Epstein, segundo a imprensa. Nas mensagens, enviadas pouco antes de o magnata americano se declarar culpado para chegar a um acordo no caso, Mandelson também o incentivava a “lutar por uma liberdade antecipada”.
O Ministério das Relações Exteriores britânico argumentou que os documentos revelados esta semana “mostram que a profundidade e a extensão da relação de Peter Mandelson com Jeffrey Epstein são sensivelmente diferentes do que se acreditava no momento de sua nomeação”.
O texto do Foreign Office destaca, em particular, “a sugestão de Peter Mandelson de que a primeira condenação de Jeffrey Epstein foi injusta e deveria ser contestada”, o que “constitui informação nova” para o governo britânico.
“Em vista disso, e levando em conta as vítimas dos crimes de Epstein, ele foi destituído como embaixador com efeito imediato”, afirma o texto.
Apoio inicial de Starmer
Na quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, havia expressado seu apoio ao embaixador em Washington após a publicação de uma carta escrita em 2003 por Mandelson a Epstein, na qual o descrevia como seu “melhor amigo”.
A mensagem aparecia em um livro compilado pelos amigos de Epstein por ocasião de seu 50º aniversário, que também contém uma carta ao lado da silhueta de uma mulher nua com a suposta assinatura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que nega ter escrito o texto.
O rico financista morreu na prisão em 2019 antes de ser julgado por crimes sexuais. Sua morte alimentou muitas teorias conspiratórias, segundo as quais ele foi assassinado para evitar revelações constrangedoras sobre figuras de alto nível.
Starmer ficou vários dias sob pressão, após nomear Mandelson para o cargo há menos de um ano, com o objetivo de tentar consolidar os laços entre seu governo e Trump.
Apesar disso, Starmer defendeu o embaixador no Parlamento britânico na quarta-feira, ressaltando que “expressou várias vezes seu profundo incômodo por estar associado” a Epstein. O primeiro-ministro acrescentou que o financista foi um “criminoso desprezível” que “destruiu a vida de muitas mulheres e meninas”.
Em uma entrevista no canal do YouTube do jornal The Sun, Mandelson admitiu que sua mensagem a Epstein é “muito constrangedora”. “Mas foi escrita antes dele ser acusado”, acrescentou.
O diplomata britânico afirmou, na ocasião, nunca ter “presenciado atos reprováveis” nem “provas de atividades criminosas”. Mandelson foi ministro por três vezes, além de comissário europeu de Comércio entre 2004 e 2008.
Nos anos 1990, foi um dos arquitetos do “Novo Trabalhismo” (New Labour) de centro-esquerda de Tony Blair.
Vítimas de Epstein anunciam que vão preparar lista com nomes de abusadores sexuais Brasileira revela ter sido abusada sexualmente por Jeffrey Epstein
Quem é Jeffrey Epstein
Jeffrey Epstein foi um financista americano bem-sucedido. Ele enriqueceu com seu fundo de investimentos, o “Jeffrey Epstein VI Foundation” e convivia com celebridades, políticos, membros da realeza e outras pessoas de renome e fama mundial.
A situação começou a mudar em 2008, quando ele foi condenado por exploração sexual. Ele pagava garotas menores de idade por massagens a pessoas de seu entorno na Flórida. Um acordo judicial secreto o livrou de um julgamento federal e sentenciou a 13 meses de prisão.
O caso mais ruidoso, no entanto, ocorreu em 2019, quando Epstein foi acusado e preso por organizar uma rede de exploração sexual de menores, com as quais manteve relações sexuais em suas propriedades nos Estados Unidos e em outros países. Nomes famosos fariam parte desta rede, como o do Príncipe Andrew, da Inglaterra.
Epstein cometeu suicídio em 2019, pouco depois de ser preso, antes de ser julgado pelos crimes levantados pelo FBI.
‘Epstein files’
‘Epstein files’, ou arquivos do caso Epstein, é uma forma de fazer referência às investigações sobre a rede de abuso sexual de menores comandada pelo bilionário
Há documentos que já foram tornados públicos, como
No entanto, para várias figuras proeminentes da direita norte-americana, o governo do país esconde segredos e documentos relacionados a Jeffrey Epstein. A CNN Brasil explica que, de acordo com essa teoria da conspiração, o governo norte-americano estaria encobrindo uma lista de homens poderosos, uma espécie de “lista de clientes”, ligados a Epstein.
Trump deu força à teoria conspiratória ainda durante as eleições, quando falou em 2024 sobre a possibilidade de divulgar mais arquivos do governo dos EUA sobre o caso.
Saiba mais sobre o caso Epstein e polêmicas com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump:
Caso Epstein: novas imagens de Trump e Jeffrey descobertos reacendem polêmica Trump deu festa exclusiva para ‘jovens mulheres’ com Jeffrey Epstein como único convidado, diz jornal Reviravolta no Caso Epstein provoca crise entre Trump e sua base mais fiel Bill Clinton e príncipe da Inglaterra aparecem em lista de pessoas ligadas a Jeffrey Epstein Trump processa jornal e pede US$ 10 bilhões por suposta carta ligada a Jeffrey Epstein Elon Musk diz que é hora de soltar a bomba realmente grande’ e associa Donald Trump aos ‘Epstein files’
*Com AFP