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‘Tudo é atrasado no Brasil’, critica Lula em sanção de programa para escola em tempo integral

Presidente Lula (PT) insistiu ser urgente investir em educação no país: ‘quem sempre sobra para escanteio é o povo necessitado’

Presidente Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o atraso da educação no Brasil durante a cerimônia de sanção do programa Escola em Tempo Integral no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta segunda-feira (31). A lei que regulariza a educação em período de turno e contraturno prevê investimento de R$ 4 bilhões pelo Governo Federal para estados e municípios para serem criadas 3,2 milhões de matrículas para atividades escolares em período integral. O petista disparou uma série de críticas à educação brasileira e afirmou que a sanção do programa ocorre com grande atraso no país.

“No Brasil sempre se demorou para fazer as coisas no tempo certo. A história do nosso país é triste porque nada foi feito na hor certa. Tudo é sem atrasado no Brasil. Sempre se usou o discurso de que educação era gasto, mas, ninguém nunca perguntou o gasto que tivemos por não termos alfabetizado esse país no começo do século passado”, disparou. “A escola de tempo integral era para ter sido feita há vinte anos”, declarou — à época, também era Lula o presidente do país.

Ainda na cerimônia no Salão Nobre, o petista criticou o formato atual das escolas e indicou ser necessário oferecer salários “mais razoáveis” para os professores. “Precisamos de uma mudança de perfil nas escolas brasileiras. Por que as crianças não gostam de ir para a escola? Elas [escolas] não são atrativas”, disparou. Lula atacou ainda o modelo conteudista das instituições de ensino e declarou que é urgente priorizar discussões atuais nas salas de aula. “Obviamente é importante a criança saber que Cabral descobriu o Brasil. Mas, ele já descobriu! Tem um monte de outras coisas que podemos discutir nas escolas, como a questão do clima, porque as crianças podem mudar a cabeça dos pais”, afirmou.

Repetindo o padrão de discursos anteriores, Lula tornou a criticar os governos dos exs-presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL). “A educação esteve sob permanente ataque nos últimos seis anos. Vivemos os desmontes de programas educacionais, ondas de ódio nas redes sociais, ódio esse que levou à criminalização dos professores e até mesmo a ataques nas escolas”, disse se referindo aos massacres e às ameaças recentemente registradas nas instituições de ensino do país.

Lula também elogiou o ministro da Educação, Camilo Santana, e brincou que Haddad está prestes a perder o posto de “melhor ministro da educação” de seus governos. Santana, por outro lado, priorizou as pautas de sua gestão à frente do Ministério da Educação (MEC) em discurso na cerimônia e cravou que o grande objetivo do Escola em Tempo Integral será cumprir a meta estabelecida em 2014 pelo Plano Nacional de Educação (PNE): alcançar o índice de 50% das escolas do país com atividades em tempo integral. “A ideia é construir uma política nacional para a educação e que garanta a redução dos índices de violência. Ter uma criança ou um adolescente na escola o dia inteiro é garantia de diminuir a violência e reduzir a evasão”, defendeu.

A criação da lei que orienta o Escola em Tempo Integral passou pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. As escolas públicas que aderirem à proposta receberão incentivos financeiros e orientações técnicas para implementação da dinâmica em tempo integral. Inicialmente, há previsão de repasse de R$ 2 bilhões pelo Governo Federal às secretarias estaduais e municipais. Este valor será entregue até o próximo ano com o intuito de criar um milhão de novas vagas neste formato no país.

Repórter de política em Brasília. Na Itatiaia desde 2021, foi chefe de reportagem do portal e produziu série especial sobre alimentação escolar financiada pela Jeduca. Antes, repórter de Cidades em O Tempo. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.