No universo da engenharia, o atrito é um adversário implacável. O contato constante entre peças metálicas gera calor, arranhões e, inevitavelmente, o desgaste. Para combater esse processo e aumentar a durabilidade de componentes caros, a indústria utiliza
Para entender a tecnologia, basta pensar em um item do cotidiano. Em entrevista à Itatiaia, Mariana Botelho Barbosa, doutora em Ciência e Tecnologia dos Materiais e coordenadora de pesquisa do Senai, usa uma analogia simples. “Vamos pegar o celular, que colocamos as capinhas para proteção, o revestimento é, de certa forma, uma ‘capa de celular’ de uma peça de metal”, explica.
Tiago Manoel, engenheiro metalúrgico mestre em Materiais e analista de tecnologia do Senai, complementa a explicação . O revestimento atua como uma “camada de sacrifício”. “Esse escudo é feito de materiais especiais que são: ou muito mais duros que o metal da peça; ou super deslizantes”, detalha Manoel.
“Na prática, quando o atrito acontece, quem sofre e se desgasta é o revestimento, e não a peça principal. A peça de metal, que é cara, fica protegida ‘embaixo’ desse escudo, durando muito mais tempo”, disse à reportagem.
Do cotidiano à indústria
Se a analogia do celular parece distante da indústria pesada, os especialistas trazem um exemplo visível em qualquer loja de ferramentas: as brocas de furadeira. “Um exemplo clássico são as brocas de furadeira (aquelas douradas ou pretas). Aquela cor brilhante não é tinta, é um revestimento PVD”, afirma Mariana Botelho .
A diferença de performance é gritante. Tiago Manoel detalha que, com o revestimento, a broca fica “super dura” e desliza melhor, permitindo furar aço ou concreto rapidamente, esquentando menos e durando dezenas de usos.
E se não houvesse o revestimento? “Na primeira tentativa de furar algo resistente, a broca esquentaria tanto que ‘perderia o corte’ (ficaria cega) e pararia de funcionar. Ela não duraria cinco minutos”, conclui o analista do Senai.
Assim, a diferença entre um componente funcional e um pedaço de metal inerte pode ser de apenas alguns mícrons, que é de fato a espessura do revestimento. A tecnologia é o que permite transformar a superfície em uma ferramenta de alta performance.
Seja na “capa de celular” protetora citada por Mariana Botelho ou no “escudo” de sacrifício descrito por Tiago Manoel, a engenharia de superfícies é a ciência aplicada que impede que o atrito vença e permite que a indústria avance.
O Instituto desenvolve soluções de engenharia de superfícies para prolongar a vida útil dos componentes.