Após ano de recordes, o que esperar da bolsa brasileira em 2026?

Ibovespa teve um bom ano em 2025, mesmo com juros altos e risco fiscal no radar dos investidores

Bolsa fechou a sexta-feira (26) com alta de 0,27%

O ano de 2025 foi de ótimos resultados para a bolsa de valores brasileira, com o Índice Bovespa B3 (Ibovespa), principal indicador do mercado de ações, alcançando sucessivos recordes e crescendo mais de 30%. Nessa sexta-feira (26), o mercado teve um avanço 0,27% e fechou aos 160.896,64 pontos, enquanto na semana a valorização foi de 1,53%.

Com uma taxa básica de juros em 15% ao ano, os juros reais brasileiros são calculados em 9,5%, a segunda maior taxa do mundo. Com uma Selic elevada, o crédito fica mais caro e o consumo desacelera, dificultando o desempenho dos setores produtivos. Mesmo nesse cenário, a Bolsa teve um bom desempenho no ano.

Segundo o especialista em renda variável do banco Inter, Matheus Amaral, o índice “pegou um vento de cauda” vindo da alocação do investidor estrangeiro em mercados emergentes, frente o “boom” da inteligência artificial nos Estados Unidos e o uma possível bolha no mercado acionário norte-americano. Essa diversificação fez com que o Ibovespa saísse de 120 mil pontos para 160 mil.

“Em dólar, inclusive, o desempenho do Ibovespa está em torno de 50% devido à desvalorização da moeda norte-americana. Pode parecer muito bom e que o mercado está em festa, mas não é o que vimos. Apesar das máximas históricas, a bolsa brasileira negocia em um valuation (valor das empresas) historicamente baixo, de 9x versus uma média dos últimos 10 anos de 10,5x”, explicou.

Ainda de acordo com Amaral, além da desvalorização do dólar e do investimento estrangeiro, alguns setores responderam bem a fatores micro. Ele cita, por exemplo, o segmento imobiliário, onde empresas com atividades voltadas ao Minha Casa Minha Vida tiveram uma boa performance com a flexibilização do programa federal.

Para o especialista, o bom resultado de 2025 pode ser visto como uma cortina de fumaça ante problemas como o ruído da política, risco de descontrole fiscal e uma Selic elevada. “Por esses inúmeros riscos, não vimos IPOs (empresas entrando no mercado) ou follow-on (empresas ofertando mais ações) na nossa bolsa. O cenário ainda é incerto”, destacou.

O que esperar de 2026?

O indicador chegou a bater 165 mil pontos durante o ano, mas recuou com o chamado “trade eleitoral”. Os investidores já começaram as apostas para as eleições do ano de 2026, considerando um cenário de disputa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Então, o que podemos esperar do Ibovespa no ano que vem?

Matheus Amaral explica que o cenário de 2026 será movimentado. “Claro que um dos principais temas, que vai adicionar um tempero de volatilidade na bolsa, será a eleição presidencial. Mas, para além disso, temos um tema que mexe diretamente nos ativos de risco e estamos falando da expectativa de queda de juros”, explicou.

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O mercado espera um corte nos juros para 12,1%, considerando que a inflação esteja dentro do teto da meta de 4,5%. Segundo a prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), 2025 deve fechar com o indicador em 4,41%, aumentando as apostas para o primeiro corte na Selic logo em janeiro.

O cenário externo ainda deve ajudar. O mercado espera cortes nos juros dos Estados Unidos, o que pode contribuir para a redução das taxas nos mercados globais. Porém, o grande limitador deve continuar sendo o ajuste nas contas públicas. “A grande pergunta mesmo, talvez seja não quem vencerá as eleições, mas sim qual será o tamanho do ajuste fiscal a ser feito”, disse.

No geral, o Inter espera um crescimento de 5% no lucro por ação do Ibovespa, estimando um valor justo de 182 mil pontos em um cenário cautelosamente otimista. No quadro pessimista, a bolsa pode recuar para 145 mil pontos com o mercado descontando o valuation para 8x considerando o risco. Enquanto no melhor cenário, sem riscos, o Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos.

Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.

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