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Com metade da população endividada, educação financeira deve começar na infância

Brasil possui mais de 70 milhões de pessoas endividadas e quase 80% das famílias com algum grau de inadimplência

Especialista dá dicas de como introduzir as crianças a educação financeira

Educação financeira se tornou um tema urgente para o Brasil, que nos últimos anos convive com inflação persistente e juros altos, tornando o custo do crédito cada vez mais caro. A realidade é que com quase metade da população adulta endividada, segundo dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o país corre o risco de criar uma geração de inadimplentes nas próximas décadas.

Em agosto, 71,78 milhões de pessoas estavam inadimplentes, um crescimento de 9,2% em relação ao mesmo período de 2024. Na comparação mês a mês, o total de inadimplentes subiu 0,71% de julho para agosto. O percentual de famílias endividadas também cresceu em um ponto percentual, chegando em 78,8%.

Para especialistas no assunto, a falta de instrução sobre finanças se tornou um problema crônico no país, que precisa ser tratado logo na infância. Em entrevista à Itatiaia, o especialista em investimentos e planejador financeiro do banco Inter, Alexandre Magno, destaca que é preciso ensinar as crianças e adolescentes a criarem consciência de suas decisões financeiras.

“Independente da sua dinâmica profissional, se você vai ser CLT, autônomo, ou qualquer outro tipo de profissão, na vida adulta você vai ter esse componente financeiro no dia a dia. Se você aprendeu desde cedo a cumprir um orçamento, saber o quanto ganha e o quanto pode gastar, a ter um plano de longo prazo e pensar em como tirar esse plano do papel com investimentos, isso é fundamental”, declarou.

Magno que o baixo custo de más decisões financeiras tomadas na primeira fase da vida é uma oportunidade única de aprender com os erros. “Você vai criando toda essa consciência. Tem que encerrar esse assunto de frente, não pode deixar o assunto de dinheiro para depois. É ensinar que economizar não é ser pão duro, pensar que investir um pouco para o futuro é bom”, disse o especialista.

Como introduzir as crianças ao mundo financeiro

Pai de duas crianças, uma com 2 anos e 9 meses, e outra com 11 meses, Alexandre Magno ressalta que introduzir as noções de educação financeira logo nos primeiros estágios da infância torna o processo mais lúdico. Segundo ele, uma dica para iniciar o processo é ensinar como funciona o orçamento da família e sua relação com as contas a pagar.

“Eu tenho um filho de 2 anos e 9 meses que observa isso no dia a dia. Ele sabe que existe dinheiro, conhece algumas notas, entende que os avós dão um dinheiro para ele poder gastar. Isso vai ser incorporado no imaginário dele. Você não tira a criança desse ambiente de recursos, mas lógico que sempre com muito cuidado para não queimar etapas e criar um filho aficionado por dinheiro”, explicou.

Outra dica importante é ensinar sobre planejamento e orçamento de acordo com a realidade, como o dinheiro para um lanche na escola ou a poupança para uma viagem. “Você vai adicionando aos poucos essas decisões e compromissos para quando chegar na vida adulta ele já tenha tido uma experiência, e possa assumir gastos maiores quando for morar sozinho”, completou.

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Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.