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Corregedor da Câmara de BH vai pedir anulação de ato que arquivou ação do PDT contra Gabriel Azevedo

Marcos Crispim (PSC) disse que arquivamento não estava combinado com o presidente da Casa

Segundo Crispim, ao contrário do que afirmou Gabriel Azevedo em nota, os dois não conversaram previamente nem firmaram acordo sobre o arquivamento da ação

O vereador e Corregedor da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Marcos Crispim (PSC), vai pedir a anulação do ato que arquivou o pedido de quebra de decoro parlamentar feito pelo PDT contra o presidente da Casa, Gabriel Azevedo (sem partido). A informação foi dada pelo próprio parlamentar à coluna nesta sexta-feira (25).

Segundo Crispim, ao contrário do que afirmou Gabriel Azevedo em nota, os dois não conversaram previamente nem firmaram acordo sobre o arquivamento da ação. “Eu não conversei nada antes. E ontem eu não estava na Câmara naquele momento. O Papagaio (assessor de Gabriel) foi ao meu gabinete dizendo que eu já havia autorizado e combinado pelo arquivamento comigo. Mas isso não procede, eu não combinei nada disso e assinaram o documento em meu nome sem eu saber”, afirmou.

Na manhã desta sexta, Crispim registrou um Boletim de Ocorrência alegando que o documento de arquivamento da ação do PDT contra Gabriel foi fraudado. Por outro lado, o presidente da Casa alega que a prefeitura coagiu o corregedor da Câmara a mentir sobre a situação.

“Que foi informado pelo seu assessor que na data de ontem, o assessor Guilherme Barcelos (Guilherme Papagaio, assessor de Gabriel) se deslocou até o gabinete de Crispim, que estava ausente, e, agindo de má fé, solicitou ao assessor que utilizasse o token do vereador para que fosse assinado um documento de arquivamento de quebra de decoro parlamentar referente ao presidente da Câmara”, narra o boletim de ocorrência feito por Crispim.

A nova crise teve início na noite de quarta-feira (23), quando o PDT ingressou na Câmara com um pedido de cassação de mandato contra Gabriel Azevedo por suposta quebra de decoro parlamentar ao discutir e atacar o vereador Wagner Ferreira (PDT). Na quinta-feira (24), Marcos Crispim (PSC) teria arquivado o pedido.

Em nota, Gabriel Azevedo pontua que foi o secretário de Governo da Prefeitura, Castellar Neto, que teria coagido e convencido Crispim a voltar atrás e simular a situação. Segundo o presidente da Câmara, o corregedor da Casa teria o confidenciado todo o episódio.

“Segundo o Corregedor Vereador Marcos Crispim narrou ao presidente, ao saber que a Corregedoria tinha rejeitado a denúncia contra Vereador Gabriel, o integrantes de seu grupo político se enfureceram e o obrigaram a tomar uma série de medidas das quais ele discordou, incluindo atribuir a responsabilidade da decisão a assessores, citando ainda a situação atual do Vereador Wilsinho da Tabu, que sofreu um pedido de cassação hoje. O Corregedor confidenciou ao Presidente da Câmara de Belo Horizonte estar muito constrangido e disse que pensou em até deixar a função, ou de até mesmo renunciar ao mandato. Pressões também ocorrem na avaliação do pedido de cassação de Wilsinho da Tabu (PP), do mesmo grupo político do Secretário Municipal de Governo Castellar Neto”, diz o texto enviado por Gabriel.

À coluna, Crispim negou ter sido coagido por membros da prefeitura ou por qualquer outro vereador da base.

A crise instaurada nesta sexta-feira tem potencial para estremecer de vez a Câmara. No acordo firmado entre Gabriel e o grupo político de Marcelo Aro, em janeiro, ficou estabelecido que Gabriel ficaria um ano como presidente da Casa e, em janeiro, renunciaria para dar a presidência ao vice, Juliano Lopes (Agir), aliado de primeira hora de Aro.

Lucas Ragazzi é jornalista investigativo com foco em política. É colunista da Rádio Itatiaia. Integrou o Núcleo de Jornalismo Investigativo da TV Globo e tem passagem pelo jornal O Tempo, onde cobriu o Congresso Nacional e comandou a coluna Minas na Esplanada, direto de Brasília. É autor do livro-reportagem “Brumadinho: a engenharia de um crime”.