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Almoço desmarcado, sondagem de Zema e susto na Assembleia: os bastidores da saída de Igor Eto

Principal articulador político do governo de Minas foi exonerado

A saída de Eto pegou de surpresa não só a Assembleia, mas também quase todo o alto escalão do governo mineiro

Eram 10h30 quando o presidente da Assembleia Legislativa mineira, Tadeu Martins Leite, precisou desmarcar um almoço com interlocutores do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). O motivo foi uma ligação do então secretário de Governo, Igor Eto, que pediu um encontro às pressas para informar sua demissão da gestão Zema, nesta terça-feira (27).

Até a manhã desta quarta (28), nenhum outro integrante do governo, nem mesmo Zema, entrou em contato com o presidente da Assembleia para falar sobre a saída do chefe da articulação política do Estado. E nem sobre seu possível sucessor.

A falta de informação vinda do governo foi um dos temas mais comentados durante a comemoração do aniversário do deputado Ulysses Gomes (PT), que reuniu os pares em sua casa. O próprio Tadeu chegou a comentar que foi avisado sobre a saída de Eto a partir de uma ligação da reportagem da Itatiaia.

A saída de Eto pegou de surpresa não só a Assembleia, mas também quase todo o alto escalão do governo mineiro. A relação entre Legislativo e Executivo, curiosamente, vivia um dos seus melhores momentos desde a posse de Zema em 2019. Na segunda-feira (26), dia incomum de votação em plenário, os deputados estaduais chegaram a ficar mais de 10 horas na Casa votando projetos de interesse do governistas após acordo entre Tadeu e Eto.

Foi também na noite de segunda-feira que a saída de Eto teve seu martelo batido. Em reunião com o governador antes de seguir para um evento institucional da Cemig, Zema sondou o então secretário de Governo sobre qual cargo dentro do Estado ele teria interesse para assumir a partir de agosto. Eto estranhou, questionou se estava sendo demitido. Zema rebateu que não era uma demissão, mas um remanejamento. O secretário rejeitou a ideia e disse que, se fosse assim, sairia já no dia seguinte - e foi o que fez.

Antes da conversa com Eto, Zema também esteve com o empresário e consultor de Desenvolvimento Econômico do governo mineiro Salim Mattar. Entre as pautas da conversa, o descontentamento com as articulações com deputados envolvendo projetos de privatização e incentivos fiscais.

Internamente Eto também não vivia os melhores dias. Pelo menos desde o início de 2022, o agora ex-secretário tinha problemas de relação com o vice-governador Mateus Simões, com quem disputava certo espaço na articulação política e gestão do Estado. A entrada do secretário Bernardo Santos com a criação da pasta de Comunicação também desidratou Eto. Bernardo e ele tinham problemas pessoais desde que Eto havia conseguido sobrevida ao falhar na articulação da eleição para presidente da Assembleia.

Apesar dos problemas do secretário com os colegas de governo, Eto vinha sendo defendido por Tadeu Martins Leite. O presidente da ALMG chegou a comentar com pares que, se fosse sondado pelo governador, defenderia a permanência de Igor - a propósito, fato que o deputado fez após vencer a eleição à presidência do Legislativo, embora Eto tivesse articulado em favor de Roberto Andrade (Patriota) na disputa.

O governo agora corre para anunciar o novo chefe de articulação política. O favorito por parte do Novo é o ex-deputado federal Lucas Gonzalez, que assumiu recentemente um cargo de auxiliar de Mateus Simões no diálogo com prefeituras. O nome de Gonzalez não agrada a Assembleia, embora o ex-parlamentar tenha apoios importantes não só do partido, mas do mercado e a simpatia do governador.

Outro nome forte, mas que gera narizes torcidos no Legislativo, é o do secretário de Casa Civil, Marcelo Aro. Responsável pela interlocução de Zema com outras instituições, principalmente em Brasília, Aro ganhou espaço com o governador e tem o acompanhado na maioria das agendas institucionais. Só que parlamentares da ALMG não têm medo em afirmar que uma possível escolha de Aro para a pasta de Governo incendiaria de vez a relação entre Executivo e Legislativo. Pessoas próximas do secretário por outro lado dizem também que ele não toparia assumir a pasta.

A torcida dentro da Casa é por um nome político que tenha condições de continuar os acordos que vinham sendo firmados por Eto. E a urgência existe: é uma semana decisiva na Assembleia, com projetos inclusive bilionários em vias de serem votados, como o Programa de Reestruturação e Ajuste Fiscal (PAF), e emendas envolvendo o reajuste das forças de segurança.

Lucas Ragazzi é jornalista investigativo com foco em política. É colunista da Rádio Itatiaia. Integrou o Núcleo de Jornalismo Investigativo da TV Globo e tem passagem pelo jornal O Tempo, onde cobriu o Congresso Nacional e comandou a coluna Minas na Esplanada, direto de Brasília. É autor do livro-reportagem “Brumadinho: a engenharia de um crime”.