Caso 1: AVC em paciente de 41 anos
Meus alunos do sétimo período de Medicina estavam atendendo os pacientes do dia, em um posto de saúde da Região Oeste de Belo Horizonte. Era a vez de uma paciente de 41 anos.
Ela informou que, há 2 dias, percebeu uma diminuição dos movimentos do braço e da perna esquerdos, certo formigamento e uma dor de cabeça não muito intensa. Não ocorreu paralisação completa dos membros, mas ela vinha apresentando dificuldade para executar algumas tarefas da casa.
Ao ser avaliada, identificaram que a pressão arterial, os batimentos cardíacos e outros dados vitais estavam totalmente normais. Porém, uma redução na força de braço e pernas esquerdos foi confirmada, ao exame físico, e chamou atenção.
Ela contou, aos alunos, que chegou a procurar uma unidade de urgência, mas que teriam atribuído os sintomas ao seu estado emocional. Ela vinha passando dificuldade financeira e alguns desentendimentos familiares.
No avançar da consulta, um dos alunos lembrou-se de perguntar sobre o histórico familiar da paciente. Questionou a existência de algum parente de primeiro grau com história de trombose ou derrame. E obteve uma resposta que mudou toda a história. Dois tios paternos já tinham apresentado AVC, inclusive um fatal, e duas primas tiveram trombose venosa profunda em membro inferior.
Imediatamente, o aluno me chamou ao consultório. Essa pergunta SIMPLES e obrigatória em toda consulta médica fez TODA a diferença. Sua história familiar e o fato de ser fumante nos levantou sinais de alerta. Pensamos na possibilidade de sua família paterna ser portadora de alguma trombofilia e de, realmente, a paciente estar sofrendo um derrame cerebral, provavelmente com pequena repercussão. Só para esclarecer, trombofilia é uma doença provocada por algumas alterações genéticas que promovem distúrbio de coagulação e aumentam o risco de trombos.
Diante da descoberta de sua história familiar, fizemos um relatório de encaminhamento minucioso para a unidade de urgência. Na semana seguinte ao atendimento, ficamos sabendo pela enfermeira da unidade de saúde que a paciente teve o diagnóstico confirmado de AVC e ainda estava internada no Hospital Odilon Behrens.
Caso 2: infarto em paciente de 47 anos
Essa semana, atendi uma paciente com sintomas de gastroenterite. Vi anotado em prontuário, que ela havia sofrido um infarto agudo do miocárdio, aos 47 anos, e necessitou colocar 2 stents - uma espécie de mola pequena capaz de manter aberta uma artéria que estava obstruída dentro do coração. Fiquei impressionada, por ser muito jovem, e fui ouvir sua história.
Ela contou que estava com seu filho, de 12 anos, tomando açaí, quando teve uma dor súbita e muito intensa, em aperto, na região anterior do tórax, além de sudorese significativa. A dor não irradiou para o braço esquerdo, nem para a mandíbula, como acontece em muitos casos de infarto. E também não foi desencadeada por esforços, o que costuma ser esperado nessa situação.
Ela teve que chamar familiares, pois não conseguia nem andar. Alguns minutos depois, apresentou também vômitos. Os outros fregueses chamaram o Samu, que a socorreram, levando-a ao hospital. Na loja, alguns clientes haviam falado que, provavelmente, sua dor seria atribuída ao esôfago ou poderia ser gastrite.
Após ser examinada e submetida a exames, como eletrocardiograma e sangue, recebeu a informação de que estava infartando. Não ficou muito surpresa, pois seu pai, que é filho único, sofreu infarto. E seu avô paterno teve morte súbita, quando era ainda jovem e morava na roça. Naquele tempo, explicou, não investigavam adequadamente o motivo da morte.
Relate as doenças existentes na família
A história de saúde familiar auxilia, muito, em alguns diagnósticos de saúde. Os casos das pacientes acima foram contados para vocês não se esqueceram de dizer a seus médicos toda a sua história familiar, detalhadamente.
Em algumas situações de urgência de saúde, esse detalhe pode preservar sua vida. Em outros, serve como auxílio na prevenção. Pedra os rins, asma, colesterol muito elevado, aneurisma cerebral, cânceres intestinal, de ovário e de mama são exemplos de algumas das doenças que podem se repetir entre as gerações. Cabe ao paciente investigar e adotar medidas de prevenção, como atividade física, não fumar e comer de maneira saudável.