“O mundo está desequilibrado financeiramente? Considerando diferentes fatores, certamente”.
Assim começa uma análise da respeitada consultoria McKinsey divulgada neste mês de outubro, onde é mencionado o fato de 1% da população mais rica do planeta deter pelo menos 20% dos 600 trilhões de dólares da riqueza global (aqui entendida como o acúmulo de recursos financeiros, propriedades, ações e outros investimentos). O documento aponta que o melhor modo de restaurar o equilíbrio e gerar maior crescimento seria acelerar a produtividade a partir, principalmente, da adoção de soluções tecnológicas.
Mas o momento é de prestar atenção também em outro pilar macroeconômico: o nível de endividamento de governos e empresas em diferentes geografias.
Segundo os mais recentes números do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida global permanece em patamares muito elevados, situando-se agora em 251 trilhões de dólares, quase 230% do Produto Interno Bruto (PIB) do planeta neste ano, que está estimado em 110 trilhões de dólares. Embora os débitos governamentais continuem avançando para financiar os caixas das administrações federais, esse movimento tem sido praticamente neutralizado pela redução gradativa dos empréstimos tomados por empresas.
A dívida privada, hoje de 151,8 trilhões de dólares, caiu para pouco abaixo de 143% do PIB global, o menor nível em dez anos. Em outra direção, a dívida pública aumentou para quase 93%, alcançando agora 99,2 trilhões de dólares.
Números das duas maiores economias: nos EUA as dívidas de governo aumentaram no ano passado de 119% para 121% do PIB, enquanto a China viu uma evolução de 82% para 88% nessa rubrica.
Quanto a dívida privada, ela apresentou queda significativa de 4,5 pontos percentuais nos Estados Unidos, indo a 143% do PIB do país. Mas na China registrou um aumento de 6 pontos percentuais, para 206% do PIB.
Em alguns mercados emergentes relevantes, segundo o FMI, o endividamento privado também aumentou, como no caso de Brasil, Índia e México.
Esses três países, tecnicamente considerados como de “média renda”, e diversas outras economias de “baixa renda” situadas em diferentes continentes têm nas exportações fonte vital de recursos para pagar suas dívidas, investir e gerar empregos. Por isso mesmo é preocupante a escalada do protecionismo comercial, que segundo o FMI pode reduzir a produção econômica global em até 7% a longo prazo.
Aquelas duas categorias de países, por sinal, possuem em conjunto dívidas de 8 trilhões de dólares, depois de ver um aumento de 205,9 bilhões de dólares entre 2023/2024, segundo dados do Banco Mundial.
Os países de “baixa” e “média” rendas acumularam passivos consideráveis durante a pandemia devido a despesas com serviços emergenciais de saúde e programas de proteção social, além do impacto das perdas com a desaceleração econômica global.