Ouvindo...

Ciro Dias Reis | Europa é lenta para reagir ao cenário global de poder e influência

Quando se trata de definir estratégias e implementar ações concretas, Bruxelas tem sempre presente a necessidade de algum grau de costura no âmbito da comunidade dos 27 países que representa

Bruxelas tem sempre presente a necessidade de algum grau de costura no âmbito da comunidade dos 27 países que representa

Enquanto os Estados Unidos de Donald Trump avançam em políticas protecionistas, a China aumenta sua influência global e a Índia se prepara para tomar do Japão, já em 2025, o posto de quarta maior economia do planeta, a União Europeia patina para se adaptar a um mundo de novos parâmetros e manter seu protagonismo nesse ambiente multipolar.

Washington, Pequim (especialmente) e Nova Delhi concentram poder de decisão e razoáveis níveis de agilidade para implementar suas políticas. Em contraste, quando se trata de definir estratégias e implementar ações concretas, Bruxelas tem sempre presente a necessidade de algum grau de costura no âmbito da comunidade dos 27 países que representa. Ou seja, uma espécie de burocracia que é característica indissociável do DNA do bloco.

O Conselho Europeu, hoje presidido pelo português António Costa, é o organismo da União Europeia que define a direção política e as prioridades do bloco. Em sua “Agenda Estratégica 2024-2029” o organismo deixa clara a complexidade dos desafios da região:

“O cenário político global está sendo remodelado pela competição estratégica, pela crescente instabilidade global e pelas tentativas de minar a ordem internacional baseada em regras. A Rússia trouxe a guerra de volta ao nosso continente. Em nossa vizinhança, a situação no Oriente Médio é dramática. Nosso meio ambiente natural enfrenta danos e perturbações crescentes devido às mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição. O rápido desenvolvimento de novas tecnologias traz consigo oportunidades e riscos potenciais”.

Em setembro de 2024, o ex-primeiro ministro italiano e ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi apresentou o estudo “O futuro da competitividade europeia”. O documento, encomendado pela presidente da Comissão Europeia Ursula van der Leyen com o objetivo de identificar as melhores opções para o avanço do bloco no cenário internacional, fazia diagnósticos e sugeria ações específicas.

Um ano depois, o Draghi Observatory, criado no âmbito do think tank European Council Innovation Policy para acompanhar e dar visibilidade a adoção das recomendações do estudo, apontava um ritmo lento no processo: apenas 11% das 383 recomendações do documento original haviam sido plenamente postas em prática, enquanto outros 20% estavam parcialmente implementados; outras 46% eram classificadas como iniciativas “em andamento” e 23% ainda estavam na estaca zero.

Draghy Observatory acrescenta ainda em seu balanço de um ano: “Nossa primeira auditoria mostra uma dura realidade: a Europa está lenta na execução (...) O painel de avaliação destaca grandes lacunas (...) Resumindo: Bruxelas está ocupada fazendo planos, mas não os está cumprindo. Dois terços da agenda de competitividade permanecem inacabados”.

O próprio Mario Draghi pinta um quadro preocupante, sem meias palavras: “Ao longo do último ano, cada um desses desafios se tornou mais agudo”. Mais: “Nosso modelo de crescimento está se esgotando. As vulnerabilidades estão aumentando e fomos lembrados, dolorosamente, de que a passividade ameaça não apenas nossa competitividade, mas a nossa própria soberania”.

O ex-primeiro ministro italiano acrescenta que o acordo comercial fechado em julho entre Estados Unidos e União Europeia (que taxou em 15% todos os produtos do continente exportados para o país) é um complicador a mais no cenário. “A dependência dos EUA na questão da defesa foi citada como uma das razões pelas quais tivemos que aceitar um acordo comercial nos termos americanos”, afirma ele.

Leia também

Ciro é atualmente board member da International Communications Consultancy Organization (ICCO) sediada em Londres; membro do Copenhaguen Institute for Futures Studies, na Dinamarca; membro do Crisis Communications Think Tank da Universidade da Georgia (EUA). Atua ainda como coordenador do PROI Latam Squad, grupo de agências de comunicação presente em sete países da América Latina.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.