Dor de cabeça: do tipo grave e que mata
Dia de trabalho normal em uma loja de um shopping, em Belo Horizonte. Uma vendedora, de uns 25 anos, reclama com a colega por ter iniciado uma dor de cabeça muito intensa. Para não sair do trabalho, toma remédio e, meia hora depois, toma outro, sem melhora do quadro. Alguns minutos mais tarde, desmaia e é levada para o hospital, mas não resiste e morre. Motivo: ruptura de aneurisma cerebral.
Não foi uma fatalidade, pois a morte poderia ter sido evitada, caso ela tivesse dado atenção às ocorrências anteriores de dores de cabeça, e investigado.
Aneurisma cerebral
Todo paciente que tem um parente de primeiro grau com essa doença deveria fazer um exame de imagem preventivo, se possível. Os aneurismas são dilatações das artérias que podem estar presentes no cérebro, desde o nascimento. Ocorre em 2% da população. A ruptura, graças a Deus, é pouco frequente, porém muito grave, gerando grande risco de morte. Promove uma hemorragia intracraniana. A dor da ruptura do aneurisma é referida como “a dor mais forte da vida” que aparece de forma súbita e, muitas vezes, é a única manifestação da doença. Em alguns casos, porém, o paciente pode apresentar náuseas, vômitos, crises convulsivas ou coma. O diagnóstico diferencial mais comum em paciente jovem é a malformação arteriovenosa.
Hematoma subdural crônico
Um familiar muito querido, de 70 anos, estava passeando com seu cachorro de grande porte. De súbito, o animal arranca e puxa seu guia, provocando uma queda da própria altura e o azar de bater a cabeça na calçada. Após uma avaliação, em pronto atendimento hospitalar, com exame de imagem normal e sutura de três pontos na cabeça, meu parente é liberado para casa.
Um mês depois, seu filho fisioterapeuta percebe que o pai está puxando uma das pernas, apresentando dificuldade de marcha. Logo pensa se tratar de um derrame cerebral ou AVC. Leva o pai, novamente, para o hospital. Dessa vez, a imagem revela um grande hematoma cerebral, que exige cirurgia. Felizmente, o meu parente retomou vida normal.
O hematoma subdural crônico é o acúmulo de sangue entre o cérebro e o osso do crânio, que pode causar dor de cabeça, confusão mental, instabilidade da marcha, crises epilépticas, déficit motor localizado ou alterações do estado mental.
É também comum após acidentes de moto, quando o piloto bate a cabeça, mesmo levemente e de capacete. O mais importante é o paciente ficar atento a esses sintomas, que podem ocorrer, tardiamente, até uns 60 dias após o acidente. Nesse momento, o sangramento já estará visível em exames de imagem.
Meningites bacterianas
Estou no plantão noturno em hospital, durante minha residência médica. Chega um paciente de 17 anos, trazido pelo Samu e vindo de uma UPA. Apresentou rebaixamento de sensório no caminho, precisou ser entubado. Chega já grave. No prontuário, vejo que sua mãe informou que o jovem estava resfriado, há poucos dias, e apresentou febre alta.
Uma hora após, o exame de sangue fica pronto e sugere infecção grave. A principal suspeita era meningite. O paciente vai para o CTI, fica isolado, sendo feita a punção lombar, que confirma a causa bacteriana. Alguns dias depois, o adolescente, felizmente, recebe alta, sem sequelas.
Infecções de sistema nervoso mais comuns são as meningites e meningoencefalites. Geram dores de cabeça, que podem ser de início súbito ou evoluir em poucas horas. São de forte intensidade e podem estar associadas à rigidez de nuca, intolerância à luz e aos barulhos, provocar náuseas, vômitos, febre, crise convulsiva e levar ao coma. As meningites podem ser causadas por bactérias, sendo mais graves, ou vírus. O tratamento, feito com antibióticos ou antivirais venosos, deve ser iniciado o mais breve possível para evitar sequelas motoras ou de cognição. Existem vacinas preventivas.
Trombose venosa cerebral
Causa dor de cabeça, de início gradual (eventualmente pode ser de início súbito), de intensidade variável, ocasionada pelo fechamento de alguma veia do sistema nervoso central. A dor pode estar acompanhada de borramento visual e náuseas. Pode ser grave, dependendo do calibre e da localização da veia afetada. O diagnóstico se confirma por exame de imagem. Acomete mais os fumantes, as usuárias de pílulas anticoncepcionais, e os pacientes com histórico familiar de trombofilias.
Tumores cerebrais
São causas pouco frequentes de dores de cabeça. Existem muitos subtipos, que variam amplamente em comportamento e gravidade, afetando tanto adultos quanto crianças. O diagnóstico precoce é essencial para o tratamento eficaz e para melhorar as chances de recuperação. Alguns exemplos são: astrocitomas, oligodendrogliomas, ependimomas, gioblastomas, meningiomas e meduloblastomas.
Podem levar a um aumento gradual da pressão intracraniana. O nódulo pode se originar-se no próprio cérebro ou ser uma metástase de outros órgãos, como mama, pulmão e intestino. Dependendo do tipo e da localização do tumor, ele poderá causar dor de cabeça no início do quadro ou somente na fase terminal da doença – o que dificulta o diagnóstico.
Habitualmente, gera uma dor que evolui gradualmente, de dias a meses, podendo estar acompanhada de borramento visual, náuseas, alterações comportamentais, crises convulsivas e perda de força em lado do corpo.
Obs.: os casos acima servem de alerta para não menosprezarmos dores de cabeça, mesmo que em episódio único e muito intenso, ou leve e recorrente.