Fabiana de Lemos | O abuso de suplementos pode gerar doenças

Parece bastante inocente a automedicação com polivitamínicos. Porém, o uso excessivo ou continuado de compostos com ferro pode provocar cirrose no fígado, insuficiência cardíaca ou mesmo diabetes

Falta de ferro ou ferritina no organismo pode causar anemia

Muitos pacientes procuram o consultório para avaliar anemia, ou seja, um distúrbio envolvendo a baixa de ferro ou ferritina. E, realmente, essa condição é muito comum, sobretudo em mulheres que menstruam exageradamente, em vegetarianos e naqueles submetidos a cirurgia bariátrica. Porém, o aumento excessivo desses nutrientes também causa danos à saúde.

Essa semana, atendi um paciente que usou um multivitamínico por 8 anos, diariamente, e acabou sobrecarregando seu fígado. Além de vitaminas, havia ferro na composição. Ele descobriu que o suplemento estava fazendo mais mal do que bem, após um check-up. Seu hemograma trazia alguns parâmetros elevados e o clínico desconfiou.

Novos exames, entre ferro, ferritina, índice de saturação da transferrina, e ainda os de fígado, como TGO, TGP, reforçaram a hipótese de excesso. Após a realização de um ultrassom de abdome total, o paciente foi encaminhado ao médico especialista. O hematologista solicitou diversos outros exames de sangue e imagem, pesquisou algumas doenças genéticas que provocam a elevação do ferro, descartando-as, e acabou ficando com a hipótese de sobrecarga por abuso de polivitamínicos.

Sintomas de ferro elevado

A maioria dos pacientes não sente nada. Mas, o excesso desse mineral pode provocar alguns desconfortos, conforme o local afetado. Entre eles, os mais comuns são:

  • Fadiga;
  • Dor abdominal;
  • Dor nas articulações;
  • Escurecimento da pele;
  • Gengivas escuras;
  • Inchaço de mãos e pés;
  • Sintomas de diabetes;
  • Irregularidade menstrual;
  • Diminuição de libido;
  • Atrofia testicular;
  • Impotência sexual;
  • Alterações de humor;
  • Perda de peso, entre outros.

O ferro circulante em excesso pode se depositar em órgãos, como coração, fígado, pâncreas, gônadas (sexuais), tireoide e causar complicações como:

  • Aumento de gordura no fígado;
  • Cirrose hepática;
  • Insuficiência cardíaca, cardiomiopatia e arritmias;
  • Diabetes mellitus;
  • Hipogonadismo (atrofia testicular);
  • Hipotireoidismo.

Causas do aumento de ferro no organismo

A elevação excessiva de ferro pela ingestão incorreta não é tão comum. Outras causas desse aumento são as transfusões de sangue repetidas, patologias que provocam a destruição dos glóbulos vermelhos, como a hemólise, e uma doença hereditária e genética, chamada hemocromatose.

Nos Estados Unidos, mais de um milhão de pessoas são portadoras dessa doença. Homens são afetados mais frequentemente do que mulheres. Esse distúrbio pode ser potencialmente fatal, mas costuma ser tratável.

Existem mais de 5 subtipos de hemocromatose, algumas mais graves que outras. A retirada de sangue, também chamada de flebotomia ou sangria, realizada periodicamente, pode prevenir danos adicionais.

Alimentos que interferem no metabolismo do ferro

Para evitar o excesso desse mineral no organismo, o paciente deve fazer pouco consumo de alimentos, como fígado de boi e galinha, moela, carnes vermelhas, frutos do mar, feijão, vegetais verde escuros, como a couve e o espinafre. Além disso, deve consumir alimentos que diminuem a absorção de ferro, como leite, derivados e chá preto. Fica a dica.

Obs.: haverá uma pausa na produção dessa coluna e retorno em fevereiro. Desejo boas festas e um 2026 cheio de esperança e saúde.

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Fabiana de Lemos é jornalista e médica. Membro da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Trabalhou no Caderno Gerais do Jornal Estado de Minas, de 1997 a 2003. Foi concursada da Prefeitura de Belo Horizonte e atuou como médica no SUS, de 2012 a 2018. Foi professora de Medicina pelo UniBH, até 2023. Atualmente, atende em consultório.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.

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