Fabiana de Lemos | Gordura no fígado: risco de cirrose e câncer

Os hábitos inadequados alimentares e de sedentarismo pioram essa condição de saúde

Fígado saudável e o com gordura

Estou impressionada com a quantidade de pacientes diagnosticados, em consultório, com fígado gorduroso. O principal perfil são pessoas sedentárias; obesas ou com sobrepeso; que se alimentam mal; não fazem atividade física; gostam de refrigerantes e têm o abdome avantajado. Para piorar, algumas ainda têm o hábito de ingerir bebidas alcoólicas “socialmente” de quinta a domingo.

Pronto! Está desenhado o cenário perfeito para gerar uma sobrecarga desse órgão, que tem 20 cm, pesa 1,5 kg, e está localizado na parte superior do abdome direito.

Qual a importância do fígado para o corpo?

Ele desempenha funções fundamentais para a saúde, como processar substâncias e remédios, eliminar toxinas, metabolizar triglicerídeos e colesterol, além de produzir os fatores de coagulação (para curar feridas) e a bile (que participa da quebra das gorduras).

Esse órgão tem, naturalmente, a capacidade de regenerar suas células. Porém, se agredido contínua e prolongadamente, começa apresentar sinais de inflamação. Chega um momento em que não é possível metabolizar os alimentos ricos em carboidratos, na velocidade necessária para eliminá-los. Isso gera a gordura no fígado, também chamada esteatose hepática.

A boa notícia é que mudanças de hábitos de vida podem reverter o processo inicial. O problema é quando o dano já está avançado e a inflamação no fígado tiver gerado cicatrização celular. Nesse estágio, já pode haver cirrose ou até insuficiência do órgão. Cerca de 20% das pessoas com a doença poderão progredir para cirrose. Todo esse ambiente propicia a instalação de cânceres no fígado.

Causas de esteatose hepática

  • Carboidratos em excesso: arroz; farinha (macarrão, pão, pizza, lasanha, biscoito, bolo); batata inglesa; doces; refrigerantes; sucos industrializados e açúcar;
  • Alimentos gordurosos;
  • Sedentarismo;
  • Obesidade e sobrepeso: 60% dos obesos sofrem com fígado gorduroso;
  • Abuso de álcool: no Brasil, o consumo médio de ingestão de álcool é de 27 gramas, por pessoa, por dia. Isso equivale a duas taças de vinho, duas garrafas de cerveja ou duas doses de destilados. De acordo com o Centro Canadense de Uso e Dependência de Substâncias, a quantidade “segura” para a saúde seria a ingestão dessa quantidade por semana (e não por dia!);
  • Genética;
  • Outros fatores que contribuem para agredir o fígado: diabetes; medicações, como esteroides, tamoxifeno, tetraciclina, paracetamol (em doses elevadas); vírus da hepatite; cigarro.

Como descubro se estou com gordura no fígado?

Normalmente, a esteatose hepática não apresenta sintomas. Somente na fase mais avançada, de cirrose ou insuficiência hepática. Alguns deles são: fadiga, cansaço, olhos amarelos, urina escura, fezes esbranquiçadas, coceira no corpo, queda de cabelo, desconforto abdominal.

O diagnóstico é muito simples. Um ultrassom do abdome bem feito mostra a doença. Normalmente, há uma classificação entre: leve, moderada e acentuada. As duas primeiras são mais facilmente reversíveis.

Quem tem acúmulo de gordura no abdome, deve desconfiar. Os exames chamados transaminases (TGO, TGP) e GGT alterados, em um check up habitual, também fazem suspeitar. Se isso acontecer, seu médico deve pedir outros testes mais aprofundados.

Como prevenir ou reverter a doença?

  • Perder peso;
  • Reduzir a ingestão de carboidratos e gorduras;
  • Evitar álcool;
  • Atividade física: pelo menos, 150 minutos semanais, por no mínimo 3 dias;
  • Ingestão de água.

Existem alimentos que beneficiam o fígado?

  • Aqueles ricos em antioxidantes e anti-inflamatórios;
  • Frutas e vegetais: uva, morango, suco de romã, couve, espinafre, brócolis;
  • Ricos em gorduras saudáveis: azeite, abacate, castanhas nobres (aquelas mais caras);
  • Grãos integrais: aveia e quinoa;
  • Proteína magra: aves, peixes e feijão;
  • Chás: verde e gengibre.
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Fabiana de Lemos é jornalista e médica. Membro da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Trabalhou no Caderno Gerais do Jornal Estado de Minas, de 1997 a 2003. Foi concursada da Prefeitura de Belo Horizonte e atuou como médica no SUS, de 2012 a 2018. Foi professora de Medicina pelo UniBH, até 2023. Atualmente, atende em consultório.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.

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