Muitos pacientes procuram o consultório porque não aguentam mais tossir. “Já estou assim há mais de 30 dias”. Tosse prolongada não deve ser considerada uma coisa normal, sendo necessário investigar. É preciso procurar três possíveis “culpados”: a via aérea superior, o estômago e os pulmões.
Após a pandemia da covid, tossir, repetidamente, perto de alguém, tornou-se quase uma afronta. Isso sem falar em outros inconvenientes: prejuízo ao sono, incômodo no trabalho e dentro de casa, incontinência urinária, faltas ao trabalho ou à escola.
Por outro lado, a ocorrência de tosse pode salvar vidas. Por alterar a pressão intratorácica, o que afeta o coração, pode servir como proteção contra arritmias potencialmente fatais ou mesmo um infarto do miocárdio. Outros benefícios são a eliminação das secreções das vias aéreas e a prevenção contra aspiração de alimentos, secreções e corpos estranhos.
Proteção contra invasores
A tosse é uma reação do organismo a qualquer invasão de partículas externas nas vias respiratórias. Quando inspiramos, o ar passa pelas narinas, garganta, laringe e traqueia, até atingir os pulmões. Todo este sistema é revestido por cílios que ajudam a “limpar” o ar e evitar a passagem de agentes externos.
Uma complexa coordenação de diversas estruturas em nosso corpo faz a tosse acontecer. Envolve o nervo vago, o cérebro, a medula cerebral, a glote, fibras nervosas sensoriais, músculos torácicos, diafragma, tórax e o pulmão.
De uma maneira simplificada, poderíamos resumir assim: após algo irritar as vias aéreas ou a garganta, o sistema nervoso envia um alerta ao cérebro, que, por sua vez, responde fazendo com que os músculos do tórax e do abdômen se contraiam e liberem uma rajada de ar. Isso gera uma tosse.
Quando o culpado é a via aérea superior
A rinite é a inflamação do tecido que recobre a parte interna das narinas. Pode ser provocada pela exposição a alérgenos, como poeira, pelos de animais, pólen, mofo, ácaros, além de odores fortes e mudança de temperatura. Os sintomas mais comuns são coriza, obstrução nasal, coceira do nariz, secreção e tosse. Acredita-se que 10% a 40% da população mundial apresente essa condição.
Já a sinusite, ou rinossinusite, é a inflamação da mucosa nasal e dos seios da face - cavidades localizadas no crânio que se comunicam com o nariz. Essas têm a função de permitir ventilação e drenagem de muco produzido na região. Quando esses canais ficam obstruídos, a secreção acumula no local, criando um ambiente propício para infecções, por vírus ou bactérias. A sinusite pode surgir como complicação da rinite ou de resfriados mal resolvidos.
Tosse provocada pelo estômago
Poucos sabem, mas a tosse prolongada pode ser provocada por um refluxo estomacal malcuidado. O paciente costuma ter, além da tosse, dor de estômago, azia, sensação de conteúdo refluído na boca. Muitas vezes, esses sintomas acontecem à noite ou de madrugada. Algumas pessoas chegam a ter sensação de sufocamento ou vomitam.
A secreção do estômago sobe e acomete a região da laringe e garganta. Pode até danificar o esmalte dos dentes. É possível identificar essa condição por meio de um exame de imagem com uma fibra introduzida pelo nariz, capaz de verificar a laringe posterior edemaciada. Ao tratar o refluxo, a tosse desaparece.
A origem é do próprio pulmão
Diversas causas pulmonares geram tosse: enfisema (DPOC), asma, bronquite tabágica, pneumonia, câncer, tuberculose, bronquiectasias, outras.
Gostaria de reforçar a importância de se pensar em tuberculose, quanto o paciente apresenta tosse prolongada. Afinal, cerca de 10,8 milhões de pessoas foram acometidas e 1,25 milhão morreram devido à doença, em 2023, no mundo. No Brasil, tivemos 84.308 casos novos, em 2024. E muitos médicos e pacientes se esquecem de pesquisar a doença.
Tosse, inicialmente seca, mas posteriormente com catarro, febre, perda e peso, dor torácica, expectoração com sangue, febre no final da tarde, sudorese noturna, fazem pensar em tuberculose.
Sempre investigem uma tosse que durar mais de três semanas.