Estocolmo, 5 de junho de 1972.
Embora pouco lembrados, local e data são marcos importantes quando o assunto é meio ambiente. Aquele foi o primeiro dia de uma inédita Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que ficou conhecida como a Conferência de Estocolmo. Nunca antes líderes mundiais e delegações diversas (113 países, Brasil inclusive) haviam se reunido para discutir a poluição do ar, o impacto do homem na natureza e a própria degradação do planeta, abordagens essas que estabeleceram os parâmetros básicos para a construção de uma agenda global.
Aquele encontro decidiu também pela criação do Dia Mundial do Meio Ambiente, que passou a ser celebrado todos os anos exatamente no dia 5 de junho.
Pouco mais de 53 anos depois é a brasileira Belém que recebe 57 chefes de estado e de governo para dialogar sobre o futuro do planeta e ajustar o foco para discussões técnicas que delegações de 143 países vão colocar sobre a mesa entre os dias 10 e 21 de novembro, período de duração da COP 30.
A COP da Amazônia, como muitos preferem chamar o encontro deste ano, pode ser vista simultaneamente pela ótica do copo meio vazio e pelas lentes do copo meio cheio.
De um lado é necessário reconhecer que o mundo está atrasado na corrida para alcançar as metas estabelecidas em 2015 na CO20, que deram forma ao Acordo de Paris. Dez anos atrás 195 nações se uniram no compromisso de limitar o aquecimento global a 2°C acima dos níveis pré-industriais e fazer esforços para mantê-lo em 1,5°C.
Para isso os países acordaram em apresentar e revisar de forma periódica suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa por meio dos chamados Nationally Determined Contributions (NDCs), ou seja, as contribuições de cada um deles ao processo geral.
Os NDCs serão, a propósito, pilar importante da COP 30. Mas das 143 delegações que confirmaram presença na COP 30 apenas 67 já apresentaram suas NDCs. Mesmo uma União Europeia sempre líder na questão ambiental embora assuma metas específicas está deixando espaços para eventuais flexibilizações, destinadas a acomodar pressões de países que consideram caro demais o processo de descarbonização.
Também ajudaram a frear nos últimos anos o avanço em direção a uma economia mais verde variáveis como a pandemia da Covid19; a polarização generalizada que, além de política, é também ambiental; a multiplicação de conflitos armados em diferentes geografias; e, claro, a posição dos Estados Unidos de ignorar a questão climática na era Donald Trump bem como a disposição renovada da indústria do petróleo de ampliar a prospecção, produção e venda de combustíveis fósseis.
Mas assim como nem tudo caminhou da maneira prevista desde Paris, também é possível dizer que nesses últimos dez anos os avanços continuaram, ainda que em velocidade menor do que a idealizada e dos obstáculos mencionados.
Além disso, novas soluções tecnológicas que continuam chegando acabam por funcionar como indutores de um futuro com energia mais limpa e menor volume de emissões. O Brasil é um bom exemplo em nível internacional: quase 90% da energia gerada no país tem origem em fontes renováveis: hidrelétricas (62%), parques eólicos (12%), biomassa (8%) e solar (5%) são responsáveis por isso.
Em 2015, as emissões globais de CO₂ ainda estavam aumentando quase 2% ao ano. Desde então, esse crescimento desacelerou para 0,3%. A demanda por combustíveis fósseis se manteve estável mas está caindo em várias grandes economias, incluindo uma China que de maior poluidora do mundo está se tornando referência global em soluções ambientais.
O mundo caminhava dez anos atrás para um aquecimento de cerca de 4° C até 2100, mas hoje as projeções giram em torno de 2,6° C. Esse último índice ainda é considerado extremamente alto, mas já representa uma significativa correção de curso que pode ganhar tração a partir das discussões da COP 30.
Está surgindo portanto uma nova economia, em boa parte alimentada por fontes renováveis e lastreada em novos patamares tecnológicos e inovação digital – oxigenando assim tradicionais ecossistemas de negócios.
O que se pode chamar de um novo cinturão solar industrial avança em várias direções, da América Latina à Ásia, passando pela África e Austrália. O chamado sul global detém 70% do potencial eólico e solar do mundo e 50% dos minerais necessários para a transição energética. Essas condições, de forma conjunta, abrem espaço para incentivar a produção de hidrogênio verde, fertilizantes e combustíveis mais limpos.
Mais representativo ainda é o crescimento constante da frota de carros elétricos mundo afora: em 2024 as vendas dos diferentes modelos somaram 17 milhões de unidades, uma participação de 20% na comercialização total. Para 2025 as previsões são de 20 milhões de novas unidades, aumentando a participação no ano para 25%.
Enquanto isso, as baterias também avançam: as dos automóveis garantem autonomia cada vez maior, enquanto aquelas destinadas a armazenar energia solar estão substituindo rapidamente a expansão do gás, por um bom tempo considerado interessante alternativa de transição para uma economia de baixo carbono.
As energias renováveis estão crescendo a uma velocidade recorde e cada passo dado potencializa novos avanços à frente: o mundo instalou 15 vezes mais capacidade solar em 2024 do que a Agência Internacional de Energia (AIE) havia previsto em 2015. Já a energia eólica se expandiu três vezes mais do que o imaginado dez anos atrás. Estima-se que o grande arco que inclui soluções de energia limpa empreguem mais pessoas hoje, em todo o mundo, do que a indústria do petróleo.
A questão agora é ver quem ganha essa corrida. Ou, em outras palavras, se a expansão da inovação e da adoção de energia limpa poderá ou não superar o ritmo intenso dos impactos climáticos.
A resposta pode começar a surgir após a cúpula de lideranças globais esta semana em Belém e as discussões das 143 delegações de países ao longo da COP 30 propriamente dita, que vai de 10 a 21 de novembro.