Trans morta em BH: delegada justifica por que não foi feita necropsia no corpo de Alice

Delegada da Polícia Civil afirmou que o médico que atestou o óbito da vítima não acionou a corporação

Caso Alice: fotos mostram hematomas pelo corpo de mulher trans que morreu espancada em BH

A Polícia Civil (PC) concluiu o inquérito que apurou a morte de Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, brutalmente espancada no dia 23 de outubro na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Em coletiva convocada para repasses sobre o caso, a delegada Iara França justificou o motivo pelo qual o corpo da vítima não passou por necropsia.

“Com o evento morte dela, toda a documentação médica foi encaminhada e foi estabelecido, claramente, um nexo causal entre as agressões sofridas e a morte. Alice chegou no hospital particular no dia 8 de novembro, faleceu no dia 9 de novembro, e o médico atestou o óbito dela e não acionou a polícia.

A polícia tomou conhecimento da morte dela no dia 10 de novembro, quando já estava acontecendo o sepultamento dela. Essas informações foram encaminhadas ao Ministério Público”, explicou a delegada.

Iara França ressaltou, ainda, que, neste caso, o laudo de necropsia é dispensável, pois já existe uma prova objetiva chamada “Laudo de ECD (Exame de Corpo de Delito) Indireto”, que estabelece o nexo causal entre as agressões e o evento morte.

Polícia Civil pede que MP investigue possível negligência médica

Essa e outras situações resultaram em um pedido da PC para que o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) investigue possível negligência médica na morte de Alice.

Segundo a delegada, o órgão vai analisar o fato de Alice ter procurado atendimento médico, mas ter sido liberada. “Alice foi encaminhada no dia dos fatos para a UPA, posteriormente, no dia 26 para um hospital público e no dia 8 de novembro para um hospital particular”, lembrou Iara França.

“Alice compareceu na delegacia de crimes contra intolerância no dia 5 de novembro, ela estava acompanhada do pai. Ela foi levada ao IML, onde a médica constatou as lesões corporais que ela havia sofrido. O papel do IML é identificar as lesões sofridas”, continuou.

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O crime

As agressões ocorreram na noite de 23 de outubro, quando Alice foi acusada pelos autores de deixar a pastelaria sem pagar uma conta de R$ 22, algo negado por ela no dia do fato. Segundo a polícia, essa situação já acontecera antes, tanto com ela quanto com outros clientes, sem gerar conflitos, pois os consumidores costumavam retornar para quitar o valor.

Mesmo assim, dois funcionários decidiram persegui-la. Neste momento, ela foi agredida por homens que trabalhavam na pastelaria e socorrida posteriormente em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e liberada.

A investigação aponta que a vítima era conhecida no local e relatava sofrer olhares preconceituosos.

Após voltar a sentir dores, foi internada em um hospital particular em Contagem, na Grande BH, no dia 26 de outubro, onde constatou costelas quebradas e lesões graves.

No dia 8 de novembro, uma nova internação identificou uma perfuração no intestino causada pelas agressões. Alice morreu no dia seguinte, em um hospital particular de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por conta de uma infecção generalizada.

O caso ganhou repercussão nacional após desabafo emocionado de Edson Alves, pai de Alice, no velório da mulher trans.

Nota do Rei do Pastel

Em nota publicada nas redes sociais no dia 14 de novembro, o Rei do Pastel se manifestou e disse estar à disposição das autoridades competentes desde o início das investigações.

“Ressaltamos a nossa solidariedade incondicional aos familiares e amigos da Alice, e destacamos que não compactuamos, em hipótese alguma, com ações discriminatórias referente a identidade de gênero, orientação sexual, raça ou qualquer outra natureza”, afirmou o estabelecimento.

Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.
Rebeca Nicholls é estagiária do digital da Itatiaia com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo. É estudante de jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH). Tem passagem pelo Laboratório de Comunicação e Audiovisual do UniBH (CACAU), pela Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e pelo jornal Estado de Minas
Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia, escreve para Cidades, Brasil e Mundo. Apaixonado por boas histórias e música brasileira.

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