Caso Alice: vítima teve medo de revelar característica dos autores por ter sido ameaçada

Polícia Civil de Minas Gerais solicitou a prisão preventiva dos investigados, mas o pedido foi negado pela Justiça

A Polícia Civil (PC) concedeu entrevista coletiva, na tarde desta quinta-feira (4), para trazer detalhes sobre a conclusão do inquérito que apurou a morte de Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, brutalmente espancada no dia 23 de outubro, na Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ela faleceu duas semanas depois, devido a complicações dos ferimentos. Segundo a delegada Iara França, da PC, a vítima teve medo de revelar característica dos autores das agressões.

Iara contou que, no primeiro depoimento, Alice afirmou ter sido agredida por um homem branco, porém não revelou quem eram os agressores. Isso se deu porque ela foi ameaçada pelos autores. A mulher trans sempre frequentava a região e era conhecida por lá.

“Ela já sabia quem eram esses agressores, porém ficou muito receosa de falar quem eram esses dois autores, porque havia sido brutalmente agredida. É uma região que ela costumava frequentar, ela não tinha a intenção de parar de frequentar, e os autores, quando agrediram ela, disseram: ‘A gente sabe que você frequenta aqui’. Eles ameaçaram ela claramente, e ela ficou com muito medo de revelar, de fato, as reais características físicas desses dois autores”, apontou a delegada.

De toda forma, Iara França afirmou que a Polícia Civil conseguiu identificar “totalmente” os autores e o nexo causal entre as agressões e a morte. Por isso, ambos os agressores foram indiciados pelo crime de feminicídio.

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O crime

As agressões aconteceram na noite de 23 de outubro, quando Alice foi acusada pelos autores de ter deixado a pastelaria sem pagar uma conta de R$ 22, algo negado por ela no dia do ocorrido. Ainda assim, segundo a polícia, esse tipo de situação já havia ocorrido antes, tanto com ela quanto com outros clientes, sem gerar conflitos, já que os consumidores costumavam voltar posteriormente para quitar o valor.

Mesmo assim, dois funcionários decidiram persegui-la. Neste momento, ela foi agredida por homens que trabalhavam na pastelaria, e socorrida posteriormente em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e liberada.

A investigação aponta que a vítima era conhecida no local e relatava sofrer olhares preconceituosos.

Após voltar a sentir dores, foi internada em um hospital particular em Contagem, na Grande BH, no dia 26 de outubro, onde constatou costelas quebradas e lesões graves.

No dia 8 de novembro, uma nova internação identificou uma perfuração no intestino, causada pelas agressões. Alice morreu no dia seguinte, em um hospital particular de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por conta de uma infecção generalizada.

O caso ganhou repercussão nacional após desabafo emocionado de Edson Alves, pai de Alice, no velório da mulher trans.

Nota Rei do Pastel

Em nota publicada nas redes sociais no dia 14 de novembro, o Rei do Pastel se manifestou e disse estar à disposição das autoridades competentes desde o início das investigações.

“Ressaltamos a nossa solidariedade incondicional aos familiares e amigos da Alice, e destacamos que não compactuamos, em hipótese alguma, com ações discriminatórias referente a identidade de gênero, orientação sexual, raça ou qualquer outra natureza”, afirmou o estabelecimento.

Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.

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